Transtorno do Espectro do Autismo: Da avaliação à intervenção neuropsicológica histórico-cultural
Transtornos do Neurodesenvolvimento; Autismo; Neuropsicologia; Diagnóstico; Reabilitação.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) tem curso evolutivo crônico, portanto, o diagnóstico e habilitação precoces são fundamentais para o aprimoramento do neurodesenvolvimento infantil e, por conseguinte, uma melhor qualidade de vida da criança com TEA e de seus familiares. Embora existam critérios clínicos que definam o diagnóstico do TEA, a etiologia multifatorial e, até o momento, a ausência de marcadores biológicos potencializam a necessidade de um diagnóstico-padrão consistente com o fim de subsidiar intervenções robustas. Os dados oriundos deste trabalho estão apresentados e discutidos em três partes que correspondem a estudos relativamente independentes no âmbito da temática em questão, quais sejam: 1) O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] como modelo de avaliação de inteligência para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo; 2) Perfil de comunicação, interação social e comportamento em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo e; 3) Intervenção neuropsicológica de orientação sistêmica para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo: modelo teórico piloto. Participaram do estudo 60 crianças de 5 a 7 anos, sendo 20 diagnosticadas com TEA e 40 com desenvolvimento típico. Os critérios de inclusão para o grupo clínico foram: 1) diagnóstico de TEA confirmado por equipe interprofissional; 2) inserção e frequência sistemática na rede regular de ensino; 3) idades entre 5 a 7 anos; 4) autorização dos responsáveis legais por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como critérios de exclusão prevaleceram: 1) presença de comorbidade neurológicas, psiquiátricas ou genéticas associadas ao quadro clínico de TEA; 2) comprometimento na acuidade visual e auditiva não corrigidos. Foram utilizados instrumentos que avaliam inteligência não-verbal (SON-R 2½-7 [a] e Matrizes Coloridas de Raven); funções executivas e percepção social (NEPSY-II); bem como uma escala de observação do comportamento que diferencia a gravidade da tríade sintomatológica do TEA (comunicação, interação, comportamento). O estudo 1 auxiliou na reflexão sobre a sensibilidade de instrumentos brasileiros utilizados na avaliação da inteligência no TEA. O estudo 2 auxiliou na compreensão do perfil das funções executivas, teoria da mente e reconhecimento de emoções em grupos clínicos estratificados pelo nível de gravidade nas áreas de comunicação, interação e comportamento. Por sua vez, o estudo 3 trouxe um modelo de programa de intervenção neuropsicológica para crianças com risco de desenvolvimento do TEA, a partir de diretrizes de habilitação centradas na estimulação de precursores comportamentais de funções cognitivas fundamentais para a socialização. Acredita-se que a presente tese constitui um modelo de avaliação e intervenção que pode redefinir planos e redirecionar os futuros caminhos ao cuidado a saúde da pessoa com TEA, especialmente em âmbito local e regional, onde há particularidades sociais e culturais em interface com o quadro clínico.