A POLÍCIA MILITAR E O “CRIME ORGANIZADO” NA GESTÃO DA PERIFERIA URBANA: NOTAS ACERCA DA EXPERIMENTAÇÃO JUVENIL
juventude; racismo; necropolítica; Estado de exceção; criminalização da pobreza.
O presente estudo investiga como dois atores violentos, a polícia militar e uma facção do “crime
organizado”, interferem no cotidiano de jovens autodeclarados pobres e negros de uma periferia
urbana do município de Natal, Rio Grande do Norte. Para obter as informações necessárias ao
desenvolvimento desta investigação, o pesquisador adotou a postura de observador participante,
inserindo-se na comunidade investigada ao longo de nove meses, onde realizou treze
observações, todas registradas em diário de campo. As informações oriundas dos diários de
campo foram sistematizadas em blocos de discussão e interpretadas com inspiração na
perspectiva materialista histórica e dialética de compreensão da realidade. Neste sentido,
destacam-se, como resultados desta pesquisa, por um lado, a presença da facção como agente
regulador da vida social, seja através da imposição de um código de conduta e sanções violentas
aos moradores do bairro ou da cooptação de jovens, convocados a, em tempos de
desregulamentação econômica na periferia do capitalismo, desenvolverem atividades
relacionadas ao comércio ilegal de drogas; e por outro lado, a polícia militar que, ao ser
convocada a combater o crime, o faz através de ações exibicionistas, inefetivas na redução da
insegurança urbana e constitutivas do processo de criminalização da pobreza, sobretudo por
identificar os bairros periféricos como lugares perigosos, estigmatizando a população nativa e,
em específico, o jovem negro. Cerceados por um sistema econômico excludente, pela violência
do Estado, da facção do bairro e da possibilidade de uma ação violenta de alguma facção rival,
que podem conduzir tanto à morte social quanto biológica, compreende-se o jovem pobre, negro
e morador da periferia como alguém situado no fogo cruzado das disputas entre crime e polícia.