OS SENTIDOS DE HABITAR PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: UM OLHAR FENOMENOLÓGICO
morador de rua; pessoas em situação de rua; habitar; pesquisa fenomenológico-existencial
Pensar no habitar é algo que remete à ideia de moradia ou lugar. No entanto, para a fenomenologia-existencial heideggeriana, habitar é a expressão do próprio ser-e-estar-no-mundo e se refere ao modo como o homem, ao se relacionar com suas possibilidades de ser-no-mundo, constrói o mundo que o circunda. As pessoas em situação de rua compõem um grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional regular. Tendo em vista que essa população se configura como temática de discussão atual em nossa sociedade e de interesse de diversas áreas do conhecimento e que para a fenomenologia-existencial heideggeriana a noção de habitar diz do próprio ser-e-estar-no-mundo, o objetivo desse estudo foi compreender quais sentidos pessoas em situação de rua atribuem à sua experiência de viver nas ruas. Pesquisas de orientação fenomenológica e existencial se encaminham na direção da experiência, considerando que tal perspectiva dá ênfase à dimensão existencial do viver humano e aos significados vivenciados pelo sujeito no seu estar-no-mundo. Esta é uma pesquisa de inspiração fenomenológico-existencial em que foram entrevistadas duas pessoas adultas em situação de rua, um homem de 42 anos e uma mulher de 25 anos, ambos potiguares. As entrevistas aconteceram no espaço das ruas e foram interpretadas à luz da hermenêutica heideggeriana. Uma das contribuições desse estudo para o campo da Psicologia, da Saúde em geral e das Políticas Públicas consistiu em apresentar modos de vida de pessoas em situação de rua a partir de uma leitura fenomenológica. Tal leitura considera a existência e o modo de ser dessas pessoas como seres-no-mundo, possibilitando reflexões acerca de como elas atribuem sentidos a sua experiência de viver nas ruas. Os relatos das entrevistas e sua análise nos permitem dizer que as pessoas entrevistadas atribuem às ruas sentidos diferentes daqueles a que as representações desses locais podem nos remeter. Para algumas pessoas, a rua torna-se um local de refúgio e acolhimento, sobretudo para aquelas que tentam evitar uma situação de sofrimento e violência. As narrativas também demonstraram que as pessoas em situação de rua possuem projetos de vida, planos para o futuro, e sonhos a serem alcançados. Por fim, a rua se configura como um lugar inóspito, assim como o mundo, desvelando a condição humana, na medida em que revela a provisoriedade e a indeterminação características da existência humana.