Mobilização de competências na atividade informal do vendedor ambulante em praia de Natal (RN)
trabalho informal; comerciante de praia; competências; conhecimentos práticos; abordagem histórico-cultural
A presente pesquisa teve como objetivo investigar a atividade de trabalho do vendedor ambulante de praia, buscando identificar as principais competências mobilizadas diante das demandas e obstáculos desse contexto. Adotou-se como campo a praia de Ponta Negra (Natal-RN) e como participantes um grupo de vendedores ambulantes. Trata-se de uma pesquisa multimétodos sequencial, combinando-se métodos quantitativos e qualitativos de produção e análise dos dados, divididos em três etapas. Na etapa quantitativa aplicou-se um questionário socioprofissional para uma amostra de 60 sujeitos, com uma análise quantitativa de natureza descritiva uni e multidimensional, complementada por análise estatística inferencial. Os resultados dessa fase indicam uma predominância de vendedores homens, com faixa salarial entre um e dois salários mínimos, de idade e escolaridade bastante heterogêneas, extensa jornada de trabalho e permanência unicamente nessa atividade e nessa praia por todo o ano. Concomitantemente a essa etapa, foram realizadas observações assistemáticas da atividade dos vendedores e, em seguida, conduzida a técnica de Instrução ao Sósia com quatro participantes, escolhidos em função de dados do questionário. Esta fase teve uma análise clínico-interpretativa, ancorada na perspectiva psicológica histórico-cultural vigotskiana e na abordagem francesa das competências e habilidades. Os principais resultados apontam para diversas estratégias de superação de obstáculos, uso de saberes práticos cotidianos e técnicos ancorados em experiências laborais, construção de regras de conduta por coletivos e mobilização de diversas competências profissionais semelhantes às encontradas em contextos formais de trabalho, como gestão de negócios, gerenciamento do tempo, uso de ferramentas comunicativas, flexibilidade na resolução de problemas, criatividade e trabalho em equipe. Conclui-se que a informalidade não pode ser vista exclusivamente como sinônimo de precariedade, abarcando também competências e conhecimentos complexos numa cultura própria que a situa de forma complementar em relação ao trabalho formal, contribuindo-se para a ultrapassagem da noção de antinomia entre os dois e para uma abordagem do trabalho informal como um caminho de alcance de satisfação, e mesmo do trabalho bem feito, gerador de identidade e lugar social.