A TERAPIA COMUNITÁRIA E A VIVÊNCIA DE ESTUDANTES DE MEDICINA: UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO APRENDIZAGEM DO CUIDADO HUMANIZADO NA ESF?
Ensino Médico, Terapia Comunitária, Estratégia de Saúde da Família, Cuidado Humanizado, Estudantes de Medicina
Diante de um cenário repleto de críticas a um modelo médico que privilegia a doença e não o doente são muitos os argumentos que defendem a necessidade de resgatar a relação humanizada entre médico e paciente, direcionando a escuta terapêutica não só para os relatos objetivos da doença, mas para todos os aspectos que permeiam o adoecer. Tornou-se imprescindível formar durante a graduação médica um profissional com formação geral, humanística, crítica e reflexiva, capaz de realizar uma abordagem integral do ser humano; no entanto, apesar dos avanços do projeto pedagógico do curso de medicina, ainda nos deparamos com inúmeros desafios no processo de formação. O presente estudo teve como objetivo principal investigar se a vivência do estudante de medicina com a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) na Atenção Primária- APS /Estratégia Saúde da Família- ESF, apresenta potencial para se configurar enquanto estratégia de ensino-aprendizagem para o cuidado integral e humanizado. Realizou-se uma pesquisa qualitativa com estudantes do curso de medicina do décimo ao décimo segundo período que tiveram vivência com a TCI, como parte do Internato de Medicina de Família e Comunidade. Utilizamos entrevistas em profundidade com roteiro e recorremos para análise das narrativas à Hermenêutica Gadameriana. Os alunos até ingressarem no internato de MFC desconheciam a TCI e suas pré-concepções revestiam-se de caráter depreciativo. A vivência do método possibilitou reavaliação dos preconceitos e construção de novos conceitos comprovando a importância da estratégia. Evidenciamos um hiato entre o “ensino” de conceitos teóricos do cuidado humanizado, mal compreendidos, durante a graduação médica e a aplicação prática desse cuidado a partir de modelos que privilegiem a escuta qualificada, a construção de vínculos, a autonomia do paciente dentre outros. Estagiar na ESF e participar da TCI favorece o aprendizado de conhecimentos “inexplicáveis”, demonstrando que só a vivência os consolida. Experimentar sentimentos de dores e alegrias através do enfrentamento de dificuldades e gratificações, neste cenário, contribui para o aprendizado. A TCI revelou potencialidades para o aprendizado de condições como resiliência, habilidade de comunicação, abordagem integral da pessoa e escuta. Questões como dificuldades estruturais, baixo número de pessoas com formação em TCI e pouco tempo de vivências com a TCI, aparecem como limitações para utilização do método como ferramenta pedagógica. Consideramos que a participação dos alunos na TCI, significa poder oferecer aos estudantes muito além de uma estratégia de ensino-aprendizagem para o cuidado humanizado, representa a possibilidade de ampliar os horizontes destes futuros médicos em um olhar bem mais consciente das dificuldades e potencialidades de um profissional na ESF. Acreditamos estar contribuindo para a formação de profissionais mais sensibilizados e preparados para realizar uma abordagem integral e humanizada da pessoa e de sua comunidade. A TCI enquanto estratégia de ensino permite ao participante realizar reflexões críticas, mostrando ser um instrumento capaz de possibilitar uma visão mais ampliada do estudante diante de sua prática profissional e capaz de conduzi-lo a mudanças de atitude, o que se refletirá em uma APS/ESF, mais resolutiva e gratificante para todos.