Evolução e biogeografia do gênero de raias marinhas Hypanus Rafinesque, 1818 (Myliobatiformes, Dasyatidae)
Elasmobrânquios, biogeografia, taxonomia, genoma mitocondrial, modelagem de nicho ecológico, conservação
As raias do gênero Hypanus Rafinesque (1818) possuem ampla distribuição ao longo das costas Atlântica e Pacífica do continente americano, assim como uma espécie no Golfo da Guiné, no Atlântico Oriental. Como a maioria das espécies de Hypanus está classificada como “dados insuficientes” (DD) na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, há uma necessidade de se resolver problemas taxonômicos e de distribuição geográfica para futuras avaliações de seus estados de conservação. Com o estudo dos genomas mitocondriais de todas as espécies até o momento válidas do gênero (H. americanus (Hildebrand & Schroeder, 1928), H. dipterurus (Jordan & Gilbert, 1880) , H. guttatus (Bloch & Schneider, 1801), H. longus (Garman, 1880), H. marianae (Gomes et al., 2000), H. rudis (Günther, 1870), H. sabinus (Lesueur, 1824) e H. say (Lesueur, 1817)) delimitamos 14 linhagens, sendo duas referentes às espécies H. geijskesi (Boeseman, 1948) e H. colarensis (Santos et al., 2004), que antes pertenciam ao gênero Fontitrygon (Last et al., 2016), e agora foram alocadas para o gênero Hypanus. A espécie com a maior distribuição geográfica, H. americanus, é um grupo não monofilético e a linhagem que ocorre desde o deságue do Rio Amazonas ao Sudeste do Brasil é uma espécie ainda não descrita e irmã de H. rudis, na costa Africana do Atlântico. Examinamos exemplares do clado H. americanus (H. americanus, H. longus e H. rudis), a fim de descrever uma nova espécie usando uma abordagem integrativa de dados de DNA barcode, morfologia e modelagem de nicho ecológico. Além disso, inferimos os tempos de divergência e identificamos as possíveis barreiras biogeográficas impostas pelo continente americano às linhagens de Hypanus: Istmo do Panamá, Península da Flórida, deságue do Rio Amazonas, distâncias entre os continentes separados pelos Oceanos Atlântico e Pacífico, e limitações de temperatura nos hemisférios norte e sul (águas temperadas e tropicais). Os resultados obtidos indicam que a distribuição geográfica das espécies de Hypanus é menor do que o que se definia, abrigando espécies ainda não descritas. Na costa brasileira ocorrem seis espécies do gênero, H. colarensis, H. geijskesi, H. guttatus, H. marianae, H. say e H. sp. 1, com pelo menos quatro espécies endêmicas, incluindo a nova espécie aqui descrita. Assim, com a delimitação morfológica, genética, de distribuição geográfica e hábitats adequados é possível fazer uma avaliação do status de conservação de algumas espécies que estão classificadas como “dados insuficientes” na IUCN, porém são amplamente pescadas e consumidas na costa brasileira.