Violência no município de Natal/RN em 2019 e 2020: Uma abordagem espacial e demográfica sobre as mortes violentas com foco nos efeitos decorrentes da pandemia da COVID-19.
População; Análise Espacial; Homicídios
A violência é um mecanismo material que sempre esteve presente na sociedade humana, manifestando-se de forma dolorosa, perigosa e desigual. No que concerne ao Brasil, desde a década de 1980 os homicídios configuram-se como a segunda principal causa de óbitos nos grupos populacionais na faixa etária de 15 a 39 anos, principalmente no sexo masculino. Com o intuito de explicar esse fenômeno tão presente no cotidiano dos grandes centros urbanos, diversos campos de conhecimento passaram a apontar fatores como pobreza, desigualdade de renda e ausência do Estado, sendo cruciais para a manutenção dos altos índices de violência no país. No entanto, poucos trabalhos discutem a temática a partir da utilização de informações desagregadas espacialmente, ao nível das coordenadas geográficas, para análises no espaço urbano. Diante do contexto, o trabalho tem como objetivo analisar a distribuição de CVLI no espaço intraurbano de Natal/RN nos anos de 2019 e 2020, além das características e o padrão locacional dessas mortes, levando-se em consideração a heterogeneidade do espaço urbano em relação às características sociodemográficas da população e a dependência com a segregação socioespacial. A escolha pela análise dos anos de 2019 e 2020 se dá em dois diferentes contextos: a distribuição espacial das CVLIs em um período pré-pandemico e durante a pandemia, com o intuito de verificar os efeitos da pandemia no fenômeno da violência em Natal/RN, suas permanências ou alterações, seja em relação à distribuição espacial dos homicídios, seja em relação à intensidade e ao perfil das ocorrências.. As fontes de dados utilizadas foram o Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo e o Censo Demográfico de 2010. A partir da obtenção dos dados em formato geoespacial, foi possível adotar técnicas espaciais como medidas de distância, interpolação de Kernel e autocorrelação espacial, sendo que os resultados evidenciaram a manutenção dos espaços violentos nas porções Norte e Oeste da cidade, apresentando percentuais elevados de CVLI nessas áreas devido ao tráfico de drogas, mortalidade entre a população jovem e a forte relação entre esse fenômeno e as áreas que apresentam maior vulnerabilidade socioespacial. Porém, foi possível observar algumas diferenças em relação à distribuição espacial das CVLIs, e, principalmente, em relação às características de violência observadas entre 2019 e 2020.