QUANDO MENOS É MAIS: ANÁLISE DO IMPACTO DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA DOMICILIAR DO BRASILEIRO
população-ambiente, consumo, transição demográfica, energia elétrica
O início da discussão sobre a relação população-ambiente se confunde com o próprio aparecimento da ciência demográfica e historicamente essa relação vem sido discutida sob a luz do malthusianismo, cujo postulado é que a pressão sobre o ambiente estaria relacionada ao crescimento e tamanho da população. No entanto, estudos recentes apontam que o contingente populacional em si não seria suficiente para explicar mudanças ambientais e discutem a necessidade de que outros fatores demográficos sejam considerados. Entre os mais importantes aspectos dessa complexa relação está o consumo que, por sua vez, é uma dimensão estreitamente correlacionada com as mudanças e dinâmicas demográficas. Deste modo, se o consumo é influenciado por fatores demográficos e se considerarmos que o Brasil vivencia transformações aceleradas na sua estrutura demográfica, é de se esperar que novos níveis e padrões de consumo estejam por surgir no Brasil, fato que caracteriza a temática como promissora e importante para estudos e pesquisas. O objetivo deste trabalho é analisar o consumo de energia elétrica domiciliar per capita por estágios do ciclo de vida do domicílio no Brasil e simular o comportamento do consumo energético considerando as mudanças na estrutura etária domiciliar. A metodologia proposta consiste em mensurar e analisar descritivamente o consumo de energia elétrica domiciliar per capita por cada estágio do ciclo de vida do domicílio através de taxas específicas de consumo por idade do chefe do domicílio e por arranjo domiciliar. Em seguida, por meio de técnicas de padronização, verificar o nível de consumo caso o Brasil apresentasse outras estruturas etárias em seus domicílios. Os resultados indicaram que o nível de consumo de energia elétrica domiciliar per capita deve aumentar quando os domicílios apresentarem uma estrutura por idade do chefe mais envelhecida, ou seja, um maior consumo de energia deve surgir devido ao envelhecimento populacional. Com as estimativas adotadas nesse trabalho, o acréscimo do consumo decorrente da transição demográfica é o equivalente ao consumo de energia elétrica residencial por três dias da cidade de São Paulo ou por 24 dias do Rio Grande do Norte. Com a confirmação dos resultados esperados, esta pesquisa corrobora com a desmistificação do malthusianismo, fortalecendo a necessidade de se criar e consolidar uma linha de pesquisa sistemática da “demografia do consumo” para a melhor compreensão da dimensão demográfica no consumo da população e no impacto no ambiente.