FARMACOPOLUIÇÃO: ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE FÁRMACOS E SUA RELAÇÃO COM O PADRÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO ESTUÁRIO DO RIO POTENGI - RN, BRASIL
Ecotoxicologia; Farmacocontaminação; Branchoneta; Avaliação de risco, contaminantes emergentes e RISK 21
Atividades antrópicas vem proporcionando ao longo dos últimos anos, o incremento da poluição ambiental, este problema atinge os ecossistemas aquáticos em todo o mundo e o conhecimento do papel/impacto de produtos químicos sintéticos, como os fármacos, ainda é limitado.
O monitoramento ambiental da qualidade da água, busca avaliar a eficiência dos tratamentos, através do conhecimento e aferição dos compostos existentes nessa matriz, conhecidos por serem perigosos visando a proteção à saúde pública.
Devido as recentes preocupações com a eficiência de remoção de produtos farmacêuticos no meio ambiente, e a necessidade de avaliação da segurança das águas residuais, recuperadas, descartadas, e/ou reutilizadas em ecossistemas aquáticos, o objetivo deste trabalho é avaliar o potencial ecotoxicologico de compostos emergentes na água do estuário do rio Potengi, em relação a parâmetros físico-químicos: Condutividade Elétrica; pH; Salinidade, Nitrogênio Amoniacal, Orgânico, e Amoniacal Total; Nitrato; Nitrito; Fósforo Total, Potássio Total, Cor, Turbidez, Sólidos em Suspensão, Sedimentáveis e Totais, Teor de Óleos e Graxas (TOG), DBO5 e OD, microbiológicos: Coliformes Totais e Coliformes Termotolerantes, de metais: Alumínio; Chumbo; Cobre; Cromo; Ferro; Níquel; Zinco; Manganês; Mercúrio; Cadmio e 14 fármacos (presença e concentração) (Invermectina, Fosfato de cloroquina, Sulfato de hidroxicloroquina, Azitromicina, Cafeína, Diclofenaco sódico, Naproxeno, Ibuprofeno, Acetaminofeno (paracetamol), Aspirina, Estrona, Estriol, Amoxilina cristalina e Eritromicina), no período de um ano, com 12 coletas, em três pontos amostrais distintos.
Além disso, também foram realizados testes de ecotoxicidade com a Dendrocephalus brasiliensis considerando que é uma espécie autóctone, adaptada a regiões tropicais e às especificidades do ecossistema local fornecendo resultados realísticos.
Associado a essa caracterização realizou-se a análise de risco com o RISK 21, que avalia o risco quantitativo vinculado a estimativas de perigo (gravidade de problemas de saúde efeitos relativos a um nível de exposição) com estimativas de exposição (contato entre uma substância e um alvo durante um período) para prever resultados de saúde no mundo real.
O objetivo geral da tese é analisar o risco de farmacocontaminação em corpos de água superficial receptores de esgoto tratado e não tratado no contexto da área estuarina do rio Potengi - Natal/RN. Tendo como objetivos específicos analisar o estado da arte em corpos hídricos brasileiros, verificar a ocorrência de fármacos utilizados na pandemia e os potenciais riscos ecológicos mediante a matriz RISK 21, caracterizar por meio de análises físico-químicos, microbiológicos, de metais e fármacos utilizados no tratamento da COVID-19 a qualidade do efluente tratado e da água das áreas perimetrais aos pontos de emissão de efluentes tratados na área objeto de estudo, validar a utilidade da espécie Dendrocephalus brasiliensis, como organismo para testagem ecotoxicológica de fármacos utilizados massivamente no contexto pandêmico.
O capítulo 1 é intitulado revisão da literatura: ocorrência de fármacos em água superficial e avaliação de risco usando a abordagem RISK21, e busca realizar um levantamento da literatura para avaliar a presença de fármacos em matrizes de água superficial, para posterior avaliação de risco por meio da ferramenta RISK 21.
Baseado na resposta obtida em levando bibliográfico, foi possível verificar que foram descritos 65 fármacos, dentre estes, 19 famílias farmacológicas foram representadas. A classe de anti-inflamatórios apresentou maior ocorrência nas matrizes aquáticas, sendo seguida pelos antibióticos, anti-hipertensivos, analgésicos, reguladores lipídicos, antiepiléticos e antidepressivos.
Foi constatado ainda que a classe terapêutica dos anti-inflamatórios foi representada nas publicações analisadas pelos seguintes princípios ativos: diclofenaco, naproxeno, ibuprofeno, cetoprofeno, betametasona, fenilbutasona, predinisona, nimesulida e piroxicam. Sendo o diclofenaco e o ibuprofeno os fármacos mais encontrados nas matrizes hídricas do Brasil, já que o diclofenaco foi relatado em 17 dos 49 estudos avaliados e o ibuprofeno foi quantificado em 10 artigos.
O capítulo 2, intitulado avaliação da qualidade de águas estuarinas receptora de efluente sanitário tratado e não tratado, permite a avalição da qualidade da água do estuário do Rio Potengi por meio de avaliação de parâmetros físico-químicas, microbiológicas, de metais, cianobactérias e fármacos selecionados no contexto covid, apresentando características da região e do sistema de tratamento de efluentes aplicado.
O capítulo 3, de título: Validação da espécie dendrocephalus brasiliensis como organismo teste de água doce em estudos ecotoxiológicos para avaliação de fármacos utilizados no tratamento da covid-19, aponta que devido as recentes preocupações com a presença de produtos farmacêuticos no meio ambiente em particular decorrente do consumo e utilização massiva de fármacos empregados no tratamento da COVID 19, teve como objetivo validar o organismo D. brasiliensis como organismo teste para estudos de ecotoxidade e comparar os resultados com a espécie D. magna como organismo teste de referência frente a exposição aos compostos Hidroxicloroquina, Ivermectina, Paracetamol e Ibuprofeno. este artigo foi publicado na revista Acta Toxicológica Argentina.
O capítulo 4, contempla um Manual de cultivo e produção - Dendrocephalus brasiliensis, também conhecida por camarãozinho, brancneque ou artemia de água doce, a branchoneta (lê-se "branconeta"), é um micro crustáceo de água doce. Nesse manual apresenta-se todo o processo de cultivo, eclosão do cisto, alimentação, parâmetros de qualidade da água, sexagem, características ecotoxicológicas etc.
Esta tese está diretamente relacionada a ODS 6 – Água potável e saneamento: garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos, e a ODS 14 – Vida na água: conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.