Luz, Câmera, PositHIVação! Narrativas audiovisuais e estratégias de visibilidade soropositiva a partir do YouTube
Esfera pública digital. Influenciadores digitais. YouTube. Narrativas audiovisuais. HIV/Aids
Esta é uma tese positiva. Produziu-se na perspectiva de retratar fluxos e circulações de conteúdos audiovisuais nas redes digitais interconectadas, materializados em torno dos sentidos culturais e políticos a respeito da soropositividade. Apresenta narrativas e roteiros de pessoas que reconhecem, nas vivências pessoais, energia para conduzir processos de empoderamento e de mudança social, em relação a contextos históricos de violência e discriminação aos quais foram condicionados indivíduos em virtude da sua condição sorológica. A internet é o ambiente onde se observam tais práticas, nas quais pessoas que vivem com HIV se apropriam dos recursos tecnológicos criativos para, a partir das suas experiências, promover espaços para troca de conhecimentos e produção de saberes, estabelecendo condições para consumar atos coletivos em nome da visibilidade soropositiva. Nesse sentido, a pesquisa é desenvolvida com os propósitos de analisar os conteúdos partilhados a partir do YouTube, no que se refere às características dos produtos midiáticos, e dos itinerários de realização dos canais, no âmbito sobre como são concebidas e praticadas as táticas de produção audiovisual nas plataformas de vídeo online. Para tanto, a investigação foi conduzida no horizonte da pesquisa etnográfica, pelo interesse de obter uma “descrição densa” das dinâmicas e significados estabelecidos nessas ações (GEERTZ, 2008). Na condução do estudo, foi procedida uma observação acompanhante (MISKOLCI, 2017) das práticas digitais em relação às rotinas de circulação de vídeos nos canais e, através do mapeamento das páginas, determinado o recorte empírico constituído por 18 canais produzidos por homens gays soropositivos. A partir desse material, foi aplicada a análise de conteúdo (BAUER, 2002; BARDIN, 2002) pela qual se alcançou a complexidade do emaranhado de discursos organizados sob gêneros discursivos, formatos de produção audiovisual e abordagens temáticas das variadas camadas da vida social. O material é referência, junto as transcrições e análises de falas e histórias de vida (BECKER, 1999; MYERS, 2002) dos quatro canais com maior volume de conteúdos, produzir inferências sobre os modelos de ação social e política na construção da #EsferaPosithiva. A partir dos quadros obtidos, foi possível conceber politizações dos ambientes conversacionais na internet, com base na cultura libertária e emancipatória fundada nos alicerces de uma sociedade interconectada (CASTELLS, 2003; 2005; 2015; 2017). Os canais de vídeo consistem de ações fomentadoras dos processos de empoderamento, tendo em vista a tomada crítica da produção de subjetividades através de atos performativos para se contrapor aos enquadramentos históricos de precariedade das vidas soropositivas (BUTLER, 2015; 2018; 2020). Ao mesmo tempo, revelam processos de transformação das estruturas sociais e organizacionais de uma sociedade midiatizada, decorrentes da apropriação criativa e interativa dos aparatos tecnológicos digitais (HJARVARD, 2014). Há, por fim, o entendimento de que a figura dos influenciadores digitais emerge na articulação com o ativismo, no que se refere às possibilidades de se fazer circular, na esfera interconectada, sentidos políticos e narrativas contestadoras do estigma e das condições subalternas a que os sujeitos são historicamente estabelecidos.