VER, LEMBRAR E NARRAR: A conformação das memórias sobre a Ditadura Militar na recepção do audiovisual.
Memória. Recepção. Mediações. Ficção audiovisual.
Instância construída subjetiva e socialmente, a memória não é um fenômeno natural, mas um espaço de disputa entre várias organizações sociais pelo controle e legitimação de um passado. Com o desenvolvimento da escrita e o advento de novos aparatos técnicos, criam-se novas formas de armazenar e transportar informações. A memória deixa de ser restrita aos limites do aqui e agora do sujeito e passa por transformações. Nesse cenário, as mídias passam a desempenhar um papel importante na publicização e construção de enquadramentos da memória. Este estudo visa analisar a conformação da memória de grupos políticos durante o processo de recepção de ficção audiovisual. Para tanto, um corpus de quatro capítulos da telenovela Amor e Revolução foi usado como dispositivo cognitivo para a rememoração. A telenovela, transmitida pela emissora SBT entre abril de 2011 e janeiro de 2012, remontava o início e o desenvolvimento da Ditadura Militar no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Três militantes de filiações comunistas diferentes, que atuaram contra o regime no Rio Grande do Norte e nos estados vizinhos, foram participantes desse estudo. Utilizando o método da história oral, a pesquisa foi dividida em duas etapas: as entrevistas em profundidade, que tratavam da história de vida dos colaboradores com a militância em partidos comunistas e outros movimentos sociais; e a assistência de uma unidade dramática da telenovela Amor e Revolução. Comparando esses dois momentos do estudo, analisamos o fluxo das mediações que entrecruzava as memórias da militância e o enquadramento midiático; os deslocamentos da narrativa de rememoração durante a recepção; a oposição entre a memória representada e as experiências dos receptores.