Estética da Anáfora: Marcas de Um Cinema no Rio Grande do Norte
Cinema no Rio Grande do Norte. Anáfora. Enredo fantástico. Armorial.
O presente trabalho versa sobre o conceito de estética da anáfora, vinculando-o analiticamente ao enredo fantástico dos filmes ficcionais produzidos no Rio Grande do Norte, entre 2010 e 2019, tomando como ponto de partida as seguintes produções fílmicas: Inácio Garapa: Um Matuto Sonhador (José Gomes, 2010); O Mundo de Ana (Wigna Ribeiro, 2014) e Lua de Fogo (Walfran Guedes, 2016). Fez parte do nosso propósito delinear uma tradição cultural do Nordeste presente no recorte fílmico percebendo o resgate técnico e estético na mise-en-scène e a anáfora foi o instrumento-guia para a definição de um estilo cinematográfico vigente nos filmes selecionados. A estética da anáfora fundamentou-se nos cronotopos das realidades sociais do teórico Bakhtin (1997, 2002, 2013), no diálogo do sujeito com o mundo, de modo a manter em si reminiscências de um tempo e um espaço ressignificando-os. O conceito de anáfora emergiu na forma de motivos visuais retomados com elementos de diferentes domínios. O uso de técnicas cinematográficas específicas afetou o estilo cinematográfico, “a textura tangível do filme” (BORDWELL, 2009, p. 58). O caminho trilhado seguiu o percurso teórico-metodológico apresentado por David Bordwell (2008, 2016, 2018), para o qual o estilo concerne às escolhas dos realizadores em circunstâncias históricas e tempo oportuno. O método de fragmentação fílmica de David Bordwell (2008, 2016, 2018), a saber, a segmentação do esquema escrito das cenas e o desenvolvimento de uma estrutura foi aplicado na análise dos procedimentos da mise-en-scène nos relatos dos cineastas; contribuiu a partir dos estudos da categoria de enredo fantástico (como controle da mise-en-scène—, aglutinador do aspecto mítico dos elementos sintetizados tanto como universais como de tradição popular nordestina) para identificar características anafóricas (reiterados) e díspares nas subcategorias do cenário, figurino, maquiagem e encenação. Articulou-se a expressão dessas subcategorias sob a égide da anáfora, do estilo, da estética, do fantástico, mediante cronotopos. Os capítulos da tese elucidaram nos filmes o conceito de estética da anáfora, perpassando pelo exame e fragmentação do contexto histórico formador do cinema no Rio Grande do Norte, mediado pela relação entre o fantástico, o mítico e o popular. Desvelou-se no cinema ficcional do Rio Grande do Norte no período entre 2010 – 2019 a ocorrência de um estilo, a estética da anáfora no esquema narrativo fantástico do corpus analítico.