NARRATIVAS POLÍTICO-POÉTICAS: reflexos sociais e subjetivos da arte urbana na dinâmica da vida cotidiana físico-digital
cidade; graffiti; ciberespaço; política; poética
A primeira ideia de cidade presente, feito imagem, em minha memória é a de um traçado concreto que se descobre entre ruas, becos, vielas, esquinas, de muros que protegem e expõem os sujeitos e suas travessias (DE CERTEAU, 1998; FERRARA, 2015). Mas a verdadeira dinâmica hodierna da vida cotidiana nos apresenta, todos os dias, a uma ideia de cidade que, ao invés de avesso daquela outra, é extensão (DI FELICE, 2009; LEMOS, 2009). Ela nutre-se numa dimensão infinita, que vai da urbe às redes sociais digitais, num trajeto chamado, aqui neste trabalho, de "travessia imaginária rua-redes" e que é possibilitada pelo protagonismo que a imagem da arte urbana exerce em nossas mentes, e em tantos dos contextos simbólicos — sociais, culturais, afetivos — que nos rodeiam, ao nos colocar diante de imagens-mensagens aqui definidas como "narrativas político-poéticas" (ARENDT, 2002; BACHELARD, 1978). Diante disso, dialogamos com autores sobre a inserção de painéis de graffiti expostos na rua, considerando a sua extensão físico-digital, a partir de uma discussão envolvendo os sujeitos e as imagens que os afetam dentro de cenários que se fazem espaços de legibilidade urbana e lugares de memória (FLUSSER; 1985; HALBWACHS, 1990; NORA, 1984). Para tanto, por meio de uma perspectiva metodológica etnográfica, guiada por uma descrição densa (GEERTZ, 1978), criamos um caderno de campo para descrever rotas caminhantes por entre expressões artísticas de rua. Desta forma, experimentamos e analisamos 5 paisagens urbanas, na cidade de Fortaleza, onde há muro grafitado, discutindo a relação entre as formas simbólicas presentes nas expressões artísticas e os espaços que se fazem cenários da exposição a céu aberto, mundo afora (DIÓGENES, 2015; CAMPOS, 2007).