Desenvolvimentismo, neoliberalismo, Gudin, Simonsen.
A Era Vargas não marcou apenas o fim da República Velha, a queda das oligarquias agrícolas no campo máximo da política e a primeira experiência democrática da nova república. No âmbito do que será discutido ao longo dessa pesquisa, a Era Vargas tem como mais importantes os seguintes adventos: I - transição de um país cuja economia era essencialmente agroexportadora para uma economia industrial; II - de uma sociedade "escrava" campestre arraigada às estruturas tradicionais para uma sociedade urbana e moderna; III - de um Estado Liberal, oligárquico e refém das elites agrárias para um Estado planejador-progressista e intervencionista.
Essa pujante transição é o mais notório símbolo do contexto histórico em que ocorre a "controvérsia do planejamento". Ao longo da Segunda Guerra Mundial, Vargas flertou abertamente com o fascismo, com os países do eixo e, por fim, se juntou aos aliados. Essa mesma persistente indefinição modelou seu caráter no tocante à estrutura de Estado que delineou seu governo. Ao passo que Vargas flertava com o desenvolvimentismo progressista, mantinha, dentro do seio do seu governo, liberais, como Gudin, que freavam a total guinada do Estado brasileiro ao intervencionismo planejador.
As ideias divergentes que compõem as agendas do intervencionismo e do liberalismo, tanto o novo quanto o velho, sempre foram objetivos de acaloradas discussões entre os economistas. Quando essa temática ganha o acréscimo da industrialização, tornam-se ainda mais conflituosas as trocas de ideias. É nesse contexto que se desencadeia o debate entre Eugenio Gudin e Roberto Simonsen. Ambos eram funcionários do governo Vargas e discutiram acaloradamente sobre quais deveriam ser os rumos do país nas próximas décadas.
Gudin era um legítimo liberal clássico e defensor do Estado mínimo. Simonsen era um desenvolvimentista, industrialista e defensor da implementação de políticas para combater o atraso e pobreza que assolavam o Brasil de sua época.