EMERGÊNCIA DE Enterococcus SP. RESISTENTES À VANCOMICINA NA CIDADE DO NATAL-RN
Enterococcus resistente à vancomicina, dispersão clona, colonização, PFGE, MLST.
Surtos e dispersões clonais do gênero Enterococcus resistente à vancomicina (ERV)
vem ocasionado um dos maiores problemas de saúde pública em todo o mundo. No
Brasil, diversos estudos já reportaram esse cenário por ERV, sendo a maioria
ocasionado pelas espécies Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium. O objetivo
desse estudo é caracterizar, a nível molecular, isolados de ERV de pacientes
colonizados e de infecção oriundos de diferentes hospitais de Natal/RN. Foram
analisados 62 isolados de ERV de 51 pacientes de 7 hospitais, no período de dois
anos (2015-2016). Os isolados foram identificados a nível de espécie por primers
específicos sodA e ddl pela técnica de Reação de Cadeia em Polimerase (PCR). A
susceptibilidade aos antibióticos foi avaliada por disco-difusão, fita contendo
antibiótico (vancomicina) em gradiente e diluição em ágar (teicoplanina) (EUCAST,
2018; CLSI, 2018). As pesquisas para os determinantes da resistência à vancomicina
(vanA/vanB) e da virulência (cylA/asa1/gelE/esp) foram analisadas pela PCR. A
relação clonal foi observada pela técnica de Eletroforese em Campo Pulsado (PFGE)
e isolados representativos dos principais clones foram também avaliados pela técnica
de Tipagem por Sequenciamento de Multilocus (MLST). Sessenta e um isolados
foram identificados como Enterococcus faecalis e somente um como Enterococcus
faecium. A resistência à vancomicina, ciprofloxacina, tetraciclina e eritromicina
foram observados em todos os isolados, e 98,4% foram resistentes à teicoplanina,
esse último avaliado pela Concentração Inibitória Mínima (CIM). A CIM para
vancomicina e para a teicoplanina observada foi de 16 até ≥ 256 µg/ml e 4 até
64µg/L, respectivamente. Ademais, 88,7% (n=55/62) e 40,3% (n=25/62) também
foram resistentes à gentamicina e estreptomicina, respectivamente. Nenhum isolado
foi resistente à linezolida ou ao cloranfenicol. Somente o E. faecium foi resistente à
ampicilina. Todos os isolados apresentaram o gene vanA. A ocorrência dos fatores de
virulência incluiu gelE (98,4%; n=60/61), asa1 (100%; n=61/61), cylA (16,4%;
n=10/61) e esp (9,8%; n=6/61). Dois perfis PFGE foram identificados: clone A
(50,8%; n=31/61) e clone B (49,18%; n=30/61). Os MLST dos isolados
representantes foram tipados como ST525 e ST6. Os dois perfis clonais foram co-
circulantes nos hospitais pesquisados durante o período do estudo. Essa pesquisa
destacou uma alta taxa de colonização de pacientes por E. faecalis resistente à
vancomicina com operon vanA e uma disseminação silenciosa de dois clones
previamente associados a infecções humanas no Brasil (ST525) e no mundo (ST6).
Embora a emergência do ERV em Natal permaneça sem esclarecimento, a
disseminação inter-hospitalar durante um longo período de tempo destaca a
necessidade de medidas de melhoria na higiene e na administração da terapia
antimicrobiana para conter esse cenário de potencial epidemia multi-hospitalar
associado à infecção.