Identificação de crianças e adolescentes com suspeita de câncer: uma proposta de intervenção.
atenção primária em saúde; saúde da criança e do adolescente; educação em saúde.
Ao contrário do câncer no adulto, em que as células geralmente originam-se de tecido epitelial e que está ligado a fatores ambientais, os tumores malignos na infância são, na sua maioria, de origem embrionária e apresentam uma fase de rápida proliferação. Quando não iniciado o tratamento quimioterápico nesta fase, o tumor aumenta de tamanho, diminuindo sua velocidade de crescimento, diminuindo a resposta aos quimioterápicos. O câncer infantil representa a segunda causa de mortalidade entre crianças e adolescentes de um a dezenove anos, no Brasil. Seu impacto por doenças torna-se significativamente importante para saúde pública, já que a primeira causa está relacionada aos acidentes e à violência. Muitas crianças ainda são encaminhadas aos centros de alta complexidade para tratamento oncológico com a doença em estágio avançado. A demora ao ser encaminhado para diagnóstico pode ser da família, da dificuldade do acesso ao setor saúde, das características da doença e desconhecimento da equipe de saúde quanto à temática de câncer infantil. Diante desta problemática, objetivamos analisar o desempenho das equipes de saúde na identificação da criança e adolescente, sintomáticos de câncer, na atenção primária, por meio da metodologia pedagógica de ensino-aprendizagem, seminários, descrevendo a atuação do grupo e discutindo as atividades desenvolvidas após os treinamentos. Trata-se de um estudo qualitativo, tendo como método a pesquisa-ação. Envolveu trinta e sete profissionais de saúde que prestam atenção à crianças e adolescentes na USF Felipe Camarão II, na casa de apoio à criança com câncer e no Hospital de Pediatria/UFRN, durante o período de março à dezembro de 2010. Os dados foram analisados simultaneamente a avaliação das ações, seguindo o direcionamento da análise das ideias freireanas, tendo como referencial teórico a atenção primária à saúde. O diagnóstico situacional da realidade atual quanto ao conhecimento da equipe de saúde direcionado para identificação precoce de sinais e sintomas levantada por meio da problematização apresentou temas geradores como: a resistência para a mudança; a conscientização para a necessidade de apreenção de saberes; o conhecimento prévio por meio da mídia; fragmentação da rede de assistência, interferindo no funcionamento do sistema de referência e contra referência; o estigma da morte dentre outros. Esses temas geradores viabilizaram a escolha do conteúdo para elaboração de quatro seminários, como implementação de ação coletiva para discussão problematizadora. O processo ensino-aprendizagem permitiu aos participantes do estudo a conscientização do problema e agir por meio do conhecimento adquirido, interferindo na diminuição do intervalo de tempo entre a identificação de sinais e sintomas de câncer e o início do tratamento especializado. Como dificuldades, nos deparamos com o diagnóstico de câncer associado a terminalidade, e a dificuldade de acesso à exames laboratoriais e de imagem, necessários para o diagnóstico de neoplasias. Assim, constatamos que quando a equipe é envolvida, conscientemente, no processo de educação desde a identificação da situação problema, pode ocorrer mudanças significativas no fazer cotidiano por meio da concientização do ser. Entretanto, percebemos também que aquisição de conhecimento e interesse da equipe não são suficientes, já que para haver eficácia do atendimento é necessário uma organização da rede de atenção oncológica no estado no Rio Grande do Norte.