Avaliação da Autoestima e Qualidade de Vida dos Filhos Separados pela Hanseníase no Estado do Rio Grande do Norte
Hanseníase; Filhos Separados:Enfermagem; Qualidade de Vida; Autoestima e Estigma.
A Hanseníase é apresentada como uma das doenças mais antigas da história da humanidade, de grande significado para a vida das pessoas e da coletividade. Secularmente considerada uma doença contagiosa e mutilante, foi marcada profundamente pelo estigma, preconceito e exclusão social, caracterizada por atitudes de rejeição ao doente e seus familiares. No passado, o isolamento compulsório de seus portadores causou sérios problemas sociais e psicológicos, resultando no afastamento e na ruptura totalou parcial do vínculo familiar. Os filhos privados desse convívio, retirados muitas vezes de modo desumano, foram confinados e criados em preventórios/educandários. A pesquisa traçou como objetivo avaliar a autoestima e a qualidade de vida dos filhos separados pela hanseníase no Estado do Rio Grande do Norte. Integrando variáveis sócio demográficas, sexo, idade, estado civil, ocupação, escolaridade, crença religiosa, tipo de moradia, renda familiar e número de filhos. Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa para tratamento e análise. Realizou-se a coleta de dados com 60 sujeitos, localizados a partir do cadastro do MORHAN (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) Potiguar, utilizando questionário sócio demográfico, Escala deautoestima de Rozemberg e Instrumento SF-36. Aplicaram-se os seguintes critérios de inclusão: maiores de 18 anos; residentes no RN; filhos separados de pais com hanseníase; cadastrado no MORHAN potiguar. O projeto de pesquisa foi aprovado sob o número1.047.792 e CAEE nº 42951715.6.0000.5537 pelo Comitê de Ética em Pesquisa/UFRN, respeitando todas as prescrições feitas pelo referido órgão e a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados obtidos foram tabulados em programapara análise estatística, além de avaliação da consistência interna das escalas através do coeficiente de Croanbach. Os resultados estão organizados em dois manuscritos: 1) Estigma e Autoestima: análise de conceito em estudos sobre hanseníase; 2) Qualidade de Vida dos Filhos Separados pela Hanseníase do Rio Grande do Norte. O primeiro artigo objetivou analisar a relação conceitual do estigma e autoestima em estudos sobre hanseníase publicados em periódicos de enfermagem. Capturou-se 142 artigos catalogados no BDENF, 14 relacionavam-se, quer no título, quer no corpus do manuscrito, os termos “hanseníase” e “estigma” de 1994 a 2014. A análise do conceito de estigma e autoestima em estudos sobre hanseníase permitiu observar que os conceitos estão interrelacionados e que apresentam natureza punitiva, encontra-se presente na atualidade, doença permeada como uma referência e um atributo depreciativo, fraqueza ou desvantagem. A análise de conceito desta pesquisa baseou-se na proposta por Walker e Avant, respeitando-se as oito etapas necessárias à análise. O segundo artigo analisou a qualidade de vida dos filhos separados pela hanseníase no Estado do Rio Grande do Norte, frente às condições precárias de desenvolvimento emocional, afetivo e social dentre outros aspectos, os filhos separados podem apresentar baixa qualidade de vida. Constatou-se um ligeiro predomínio do sexo feminino (51,67%) em detrimento do masculino (48,33%). A faixa etária variou de até 45 anos (25,42%), seguido de 46 - 60 anos (37,29%) e acima 60 anos (37,29%). Quanto ao grau de escolaridade, ensino fundamental completo se constituiu em maioria (60,00%), seguido de ensino médio (31,67%) e ensino superior (8,33%). A maioria apresenta-se casado (51,66%), seguido de solteiros (26,67%), divorciados (16,67%) e viúvos (5,00%). 40,35% recebe até hum salário mínimo, 49,12% recebem de 1 a 3 salários mínimos e 10,53% recebem mais que 3 salários mínimos. 86,67% residem em casa própria. Ao serem separados de suas famílias passando a viver nos preventórios, os participantes do estudo vivenciaram uma situação potencialmente traumática, que corresponde a circunstâncias impactantes e que geram perdas significativas, exigindo (re)arranjos vivenciais. Contrapondo-se a estes resultados, o desempenho da vitalidade aumentou com a idade e influenciou positivamente a saúde mental no sentido de que quanto maior a vitalidade maior a saúde mental. A amostra apresentou baixos índices socioeconômicos e padrões satisfatórios de qualidade de vida autoavaliada, com destaque para os domínios sociais, Saúde mental e Capacidade Funcional. Houve associações estatísticas contraditórias entre os domínios avaliados o que se explicou pelo conceito de resiliência aplicado a diferentes áreas da vida humana. A vitalidade está estatisticamente associada com saúde mental. As mulheres apresentaram melhor estado geral que os homens. Em virtude da fonte dos entrevistados serem de um movimento de pessoas com o mesmo interesse, o que gera empatia e pode interferir positivamente nos escores, pode ter ocorrido um viés de seleção influenciando em aspectos do bem-estar especificamente, o que impede a generalização dos achados. Destaca-se ainda a possível dificuldade de compreensão do instrumento SF-36 por parte dos entrevistados apesar dos esforços empreendidos durante a coleta e do fato de ser um instrumento validado e amplamente utilizado. A validade externa é limitada devido à fonte única.