“PARECE TUDO IGUAL, MAS É DIFERENTE” O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO NA TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL NA PERSPECTIVA DAS CRIANÇA
Criança/ infância; transição; socialização; Educação Infantil; Ensino Fundamental; Sociologia da Infância; Etnometodologia; escuta infantil; entrelugar.
Este trabalho investiga as experiências das crianças no processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, compreendendo essa passagem não como uma ruptura, mas como um entrelugar marcado por descobertas, deslocamentos, sentidos e negociações. A pesquisa está ancorada na perspectiva da sociologia da infância, com base em autores como Corsaro, Sarmento, Sirota, Montandon e Fernandes, que reconhecem as crianças como sujeitos sociais, históricos e produtores de cultura. Do ponto de vista metodológico, adota-se a etnometodologia, fundamentada nos estudos de Garfinkel e Coulon, valorizando os modos pelos quais os sujeitos produzem sentidos em suas práticas cotidianas. A investigação foi realizada no Núcleo de Educação da Infância da UFRN (NEI/CAp-UFRN), com crianças que estavam vivenciando o processo de transição entre as duas etapas escolares. Por meio de observações, registros sensíveis, entrevistas e interlocuções com as crianças, mediadas pelo uso do objeto de interposição social, buscou-se compreender o processo de socialização escolar na transição da Educação Infantil para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir da experiência vivida pelas próprias crianças. Elas foram consideradas como sujeitos centrais da pesquisa, com ênfase na valorização de sua participação e agência, conforme discutem Fernandes, Kramer e Rocha. Assim, analisamos os modos como as crianças constroem sentidos sobre essa passagem, como interpretam as mudanças de espaço, tempo, relações e práticas, e como ressignificam a escola a partir de suas próprias referências e experiências. Os dados revelam que a transição é vivida de maneira plural, atravessada por sentimentos de estranhamento, adaptações, pertencimento e resistência. Com base nas falas e expressões vividas pelas crianças, elaboramos trilhas de compreensão sobre esse processo considerando os modos como as crianças constroem formas próprias de participação e expressão, muitas vezes silenciadas por práticas escolares adultocêntricas na transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. A tese afirma a importância de uma escuta qualificada e ética no campo da pesquisa com crianças e no contexto escolar, defendendo que reconhecer as infâncias como protagonistas da experiência escolar é essencial para repensar práticas pedagógicas e políticas públicas que respeitem a continuidade, a singularidade e os direitos das crianças.