“ROGO QUE CONCEDAES ASSIM A VONTADE DOS MENORES A UM SERVIÇO A PÁTRIA”: ALISTAMENTO E FORMAÇÃO DE MARUJOS NA ESCOLA DE APRENDIZES MARINHEIROS DA PARAÍBA (1885-1915)
Escola de Aprendizes Marinheiros. Paraíba. Alistamento. Interculturalidade. Disciplina.
Esta dissertação tem por objetivo analisar o processo de alistamento e formação de marujos na Escola de Aprendizes Marinheiros da Paraíba, entre os anos de 1885 e 1915. Com a proposta de recolher e profissionalizar os filhos das classes pobres, essa unidade propunha adotar um estilo de educação que atribuía ao labor a melhor forma de prevenção à delinquência. No entanto, para ocupar as vagas desses locais, os candidatos deveriam ser submetidos a uma bateria de exames cuja minúcia buscava diferenciar os corpos que possuíam a robustez necessário para a vida no mar daqueles que não o tinham. Os testes também surgem como prenúncio do que viria a seguir, visto que já matriculados, estariam sujeitos a um ambiente de vigilância constante, regras e atividades bem definidas, além de intolerante a qualquer tipo de insubordinação. Para o melhor entendimento acerca do tema, dialoguei com as categorias disciplina formulada pelo filósofo Michel Foucault (2018), interculturalidade, proposta por Vera Maria Candau (2008), cotidiano, defendido por Michel de Certeau (1996), além de cultura educacional, de Antônio Carlos Ferreira Pinheiro (2009). Tais conceitos são oportunos para a problematização das fonte, que foram analisadas metodologicamente por meio da análise do discurso, proposta por Michel Foucault (2014), a saber: os Regulamentos para as Escolas de Aprendizes Marinheiros (1855, 1885, 1907 e 1915), os Livros de Socorros (1896-1900), os Livros de Copiadores de Offício (1895-1914), além de edições dos jornais paraibanos A União (1897-1898) e O Norte (1909-1914). Conclui-se que a Escola de Aprendizes Marinheiros da Paraíba, durante o recorte temporal investigado, serviu a uma proposta de adestramento dos corpos infantis. Para tanto, as dimensões de alistamento e formação foram mobilizadas como ferramentas disciplinares, a fim de que fazer com que o controle fosse experimentado o mais cedo possível pelos aprendizes, ou seja, desde o momento de sua admissão até seu envio para os estaleiros.