Sentidos e práticas de escuta às crianças desenvolvidos por professoras que atuam na Educação Infantil
Educação Infantil; Práticas Pedagógicas; Escuta às crianças; Sentidos de professoras.
A presente Dissertação de Mestrado teve como objetivo analisar sentidos e práticas de professoras em relação à escuta às crianças no contexto da Educação Infantil, considerando que a Educação Infantil é um espaço coletivo de relações múltiplas, que entre outras possibilidades, pode promover o incentivo à vida democrática. Nesse sentido, durante o processo de investigação, nos orientamos pelas premissas: a) escutar as crianças vai além de ouvi-las, de uma técnica ou uma habilidade mecânica, pois pressupõe interação e diálogo; b) para propiciar que as crianças possam ser escutadas, é necessário abrir mão dos currículos fixados e organizados a partir de conteúdos disciplinares ou outros arranjos baseados nas visões e intenções dos adultos, bem como do espontaneísmo, e conferir à criança um status de sujeito com agência, com direito à liberdade de escolher e intervir no curso das situações de sua vida (FORMOSINHO, 2007). Assim, compreendemos que a escuta contribui para assegurar o direito das crianças à vida democrática, a sua efetiva participação, por meio do compartilhamento de seus saberes, do diálogo, das interações, da negociação de escolhas-decisões nas e sobre as situações que as envolvem, em um processo que é, essencialmente, ético e respeitoso às crianças interlocutoras no/do diálogo. Dessa forma, o estudo buscou responder a questão: quais os sentidos e práticas de professoras em relação à escuta das crianças no contexto da Educação Infantil? Como o nosso objeto é a escuta às crianças nos contextos de educação infantil, desde o delineamento do trabalho investigativo assumimos posturas e concepções que as reconhecem os sujeitos enquanto capazes, ativos e participantes em todos os momentos-situações em que estejam envolvidos. Com isso, os aportes metodológicos escolhidos privilegiam as relações entre os sujeitos e valorizam a escuta atenta no processo de pesquisa, adotando a abordagem qualitativa, a partir de princípios histórico-cultural de L. Vigotski para a pesquisa sobre processos humanos e de proposições do dialogismo de Mikhail Bakhtin para a pesquisa nas ciências sociais. A partir da indicação da Secretaria Municipal de Educação de Natal/RN, definimos como campo empírico duas instituições - que são conhecidas em suas comunidades como incentivadoras da formação dos professores, que valorizam as práticas de estudos e a participação das crianças no contexto escolar - e como sujeitos da pesquisa Professoras de diferentes grupos de crianças e coordenadoras pedagógicas. Consideramos que, de modo geral, as professoras participantes da pesquisa reconhecem a importância da escuta às crianças, indicando que o tema vem sendo objeto de discussões no contexto das suas escolas e como elas se apropriam desse assunto. A partir dos seus relatos, evidenciamos que as professoras participantes relacionam a escuta a diferentes concepções, se aproximando das discussões que consideram escuta como uma maneira ética de estar e se relacionar com as crianças, destacando as linguagens, interesses e necessidades das crianças em seus contextos de vida. Entretanto, apontamos que embora as profissionais participantes apresentem em suas falas diversas concepções sobre a escuta, elas demonstram um conhecimento ainda frágil acerca do que realmente significa escutar as crianças de maneira sensível e produtiva, indicando a necessidade de investimento em ações de formação continuada sobre a temática, explicitando que o papel do professor no processo de escuta não se constitui em ações simples, mas precisa considerar a criança e seus pontos de vista, necessidades e interesses, sendo, portanto um processo complexo, que demanda sensibilidade para atendê-las.