SEGUINDO AS PISTAS DE GÊNEROS E SEXUALIDADES NO CURRÍCULO DE UM GRUPO ESCOTEIRO COEDUCATIVO
Currículo. Gênero. Escotismo. Escoteiro. Análise do discurso foucaultiana.
Essa dissertação tem por objetivo analisar as relações de gênero estabelecidas no currículo de um Grupo Escoteiro coeducativo, na cidade de Natal/RN, partindo do problema de pesquisa: Como as relações de gênero estabelecidas no currículo de um Grupo Escoteiro coeducativo produzem posições de sujeito generificadas? Analisa, pois, as relações de gênero estabelecidas no currículo de um Grupo Escoteiro coeducativo, discursos e relações de poder que produzem posições de sujeito generificadas. Trata-se de uma pesquisa baseada nos estudos de currículo, nos Estudos Culturais e de gênero, além de estudos que se inspiram em Michel Foucault. Para a produção de material analisado, utilizou-se como metodologia elementos etnográficos (observações, diário de campo e entrevistas semi-estruturadas) e pesquisa bibliográfica. A análise do discurso, de inspiração foucaultiana, foi a ferramenta utilizada para o tratamento dos dados produzidos em campo. A partir dela, buscou-se questionar a linguagem, sem buscar interpretações outras que não as das palavras ditas. As análises focaram as relações de poder dispostas nos discursos, sendo esse último entendido como um elemento que produz verdades e sujeitos. Como resultado, observou-se que o currículo analisado produz as posições de sujeito menina-escoteira e menino-escoteiro na busca por uma homogeneização, visando produzir “a” escoteira e, a partir dessas, outras posições de sujeito são produzidas. No que diz respeito aos espaços de liderança ocupados pelas meninas e mulheres escoteiras, acompanhando o número crescente de escoteiras e escotistas, a posição de sujeito menina-escoteira-líder é produzida no currículo analisado. Mesmo observando avanços nos espaços ocupados pelas meninas escoteiras, algumas práticas ainda repetem lugares e funções instituídos socialmente e que (re)produzem os discursos biológico e machista, presentes no currículo analisado. São discursos que reforçam modos de ser diferentes para meninas e meninos, com lições que ensinam que algumas tarefas são melhor executadas por elas e outras por eles, produzindo a posição de sujeito meninaescoteira-cozinheira, cupada por elas no preparo de alimentos nas atividades de campo. Evidenciou-se também a pouca ou nenhuma representatividade feminina no Escotismo ao olhar das jovens, e, como forma de transpor essa barreira, as jovens têm buscado umas nas outras, modelos a seguir. Ainda como resultados encontrados, observou-se no currículo analisado pouco ou nenhuma prática que eduque sobre gêneros e sexualidades, sobretudo sobre respeito às diferenças. As lições, ao contrário, são as que instruem sobre o preconceito e a instituição da heterossexualidade como regra. Dessa forma, a coeducação pretendida desde a década de 1980, não tem sido utilizada como recurso para combater desigualdades de gênero. 11 Ainda assim, algumas poucas ações foram identificadas e postas em prática neste sentido, contudo, ainda muito incipiente. Conclui-se que o currículo escoteiro necessita de adequações para que se proponha constantes práticas que reflitam sobre as relações de gêneros e sexualidades. Estas adequações perpassam a revisão de literatura, de regras e treinamento dos adultos, consequentemente, adequações nas práticas escoteiras.