AS PRÁTICAS CORPORAIS NO COTIDIANO DAS PESSOAS VIVENDO COM HIV E AIDS: Revelando, desconstruindo e construindo histórias.
Práticas Corporais, Imagem Corporal, Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida, Corpo, Pessoas vivendo com HIV e AIDS.
O presente estudo tem como temática principal as reflexões em torno dos impactos causados pelas marcas corporais deixadas nos corpos das mulheres vivendo com a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS), pois a complexidade e a multidimensionalidade dos fatores envolvidos trazem implicações diretas no mundo-vida dessas pessoas, principalmente no que se refere à desestruturação da sua imagem corporal. Nesse sentido, o estudo teve como objetivo principal analisar e descrever o papel das práticas corporais como elemento impulsionador da reestruturação da imagem corporal das mulheres vivendo com AIDS, as quais têm o corpo marcado pela doença e a vida marcada pela não aceitação de si mesmas. Para delimitar o campo de investigação, elaboramos as seguintes questões de estudo: Podem as práticas corporais desenvolvidas nesse estudo, serem configuradas como processo autoformativo e de autocuidado? Como a experiencialidade das práticas corporais favoreceu ao processo de reestruturação da imagem corporal dessas mulheres? Podemos considerar as práticas corporais desenvolvidas no estudo como um espaço privilegiado de desenvolvimento interpessoal e intrapessoal para as protagonistas do estudo? No tocante aos aspectos metodológicos a pesquisa caracterizou-se como uma proposta metodológica do tipo qualitativa descritiva com abordagem das Histórias de Vida, tendo como suporte para a leitura dos achados a análise hermenêutica transversal. A intervenção com práticas corporais foi realizada com 05(cinco) mulheres vivendo com AIDS, na faixa etária entre 30 e 60 anos, que fazem parte do Projeto de Extensão Pró-saúde e Atividade Física, atualmente intitulado VIVER+, do Departamento de Educação Física (DEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O trabalho de campo teve uma duração investigativa de 02(dois) anos e os encontros no Laboratório Vivencial, como denominamos cada momento da intervenção, foram distribuídos em quatro dias semanais, sendo dois dias destinados à musculação e os outros dois dias divididos nas práticas de consciência corporal e atividades aquáticas e/ou em contato com a natureza. Abria-se assim, um espaço para efetivação de suas presenças no mundo enquanto corpo, para paulatinamente, favorecer a reestruturação da imagem perdida e distorcida que traziam de si. Essa reestruturação, que se deu no encontro do corpo-sujeito que emergiu do trabalho corporal como arte e não como processo terapêutico, pois buscamos ir além de gestos padronizados, contrapondo-nos à racionalização das intervenções que envolvem o se-movimentar humano. As constatações que emergiram do estudo, permitem-nos confirmar a tese nele defendida que a experiencialidade das práticas corporais, entendidas como um processo autoformativo e forma permanente de autocuidado favorecem a reestruturação da imagem corporal de mulheres vivendo com AIDS, que tem o corpo marcado pela doença e a vida marcada pela não aceitação de si mesma, levando-as a um nível de consciência de si como presença no mundo, e pressupõe, ainda, uma ação transformadora no modo como a Educação Física desenvolve os seus saberes/fazeres na educação e na saúde e, nesse caso, não podemos prescindir de um pensar crítico construtivo sobre a sua função sócioeducativa na construção da subjetividade e dos valores humanos.