“Quão romance é minha vida amorosa!”: Namoro virtual como narrativa no Orkut
Namoro virtual; Orkut; Escrita de si; narrativas; teatralização; encenação; reflexividade.
A pesquisa se propõe a estudar o fenômeno do namoro virtual através da observação do Orkut, rede social on-line. Para tanto, analisa os debates travados em fóruns e enquetes de uma de suas comunidades virtuais, chamada Conheci meu amor pela internet. O trabalho se coloca as seguintes questões: Em que se revestem tais debates? O que subjaz a práticas que visam “interrogar” os próprios namoros? Conforme nossas hipóteses, tais debates desvelam diferentes aspectos sociais contemporâneos: 1) eles emergem para responder às demandas de uma sociedade que toma a reflexividade como elemento fundamental para a constituição do eu (Anthony Giddens), 2) convertem-se em suportes, na medida em que as relações sociais, tecidas nesses espaços, aparecem investidas por uma escrita de si que indivíduos lançam mão para se constituir enquanto sujeito de sentido (Danilo Martuccelli) e, por fim, 3) discutem-se namoros virtuais com vistas a reconstruir de outra maneira aquilo que foi vivido. Isto é, os debates nos fóruns e enquetes passam por um processo de (re)elaboração na condição narrativa que revivifica e ao mesmo tempo recria o vivido (Vincent de Gaulejac, Florence Giust-desprairies, Eugène Enriquez). A análise empírica demonstra que essas discussões apresentam-se em forma de narrativas. Estas últimas são consideradas pela pesquisa, tais quais as teorizações do Paul Ricoeur, que toma as narrativas como experiências. Consideramos ainda os fóruns e enquetes sobre namoros virtuais como modalidades de apresentação do eu e teatralização da vida social, no sentido da abordagem do Erving Goffman. Neles, o indivíduo é requerido que represente a si mesmo e encene sua vida amorosa online por meio de debates públicos, razão pelo qual, são ainda espaços caracterizados por certa espetacularização da intimidade, noção desenvolvida pela Paula Sibília, referente a uma cultura que se ancora em imagens na qual a lógica da visibilidade e da aparência desempenha papel primordial na construção de si.