Entre a invenção e a avacalhação: cinema marginal e a representação da realidade brasileira nos anos de chumbo
Cinema Marginal; Cinema Experimental Brasileiro; Cinema e Ditadura; Cinema e Identidade Nacional; Contracultura brasileira; Cinema Latinoamericano.
O Cinema Marginal foi um movimento experimental brasileiro que atuou nas décadas de 1960 e 1970. Seus filmes, de produção independente, foram realizados à revelia da Embrafilme - estatal criada em 1969 com o objetivo de controlar, produzir e distribuir obras que promovessem a cultura nacional – e realizados por produtoras como a Boca do Lixo e a Belair. Inspirados pelos movimentos de contracultura, esses cineastas decidiram romper com os padrões industriais hollywoodianos ao abraçar a ideia de cinema de autor e ridicularizar as formas narrativas e estéticas comuns ao cinema e à publicidade, enfatizando a precariedade da sua produção e fazendo do cinema um espaço de discussão e denúncia da nossa condição de periferia do mundo. Seus filmes, considerados subversivos pela crítica e pela censura, são conhecidos por suas provocações acerca da política, da moral e dos bons costumes da época, endossados pelo regime conservador. Esta dissertação tem por objetivo compreender a interpretação política e social do Brasil feita pelo Cinema Marginal durante os Anos de Chumbo da ditadura civil-militar brasileira. Para isto, em seu primeiro capítulo, ela terá sua metodologia embasada no pensamento de Raymond Williams e Pierre Bourdieu para analisar o contexto social, político e artístico da época. No segundo, busca-se examinar o uso da estética abordada pelo grupo e suas potencialidades políticas. No terceiro, haverá a decupagem e análise fílmica, onde se investigará o aparecimento de elementos textuais, visuais e sonoros relacionados à brasilidade. Por fim, um quarto capítulo trará como hipótese a possibilidade desse cinema funcionar como uma máquina de guerra nômade, baseado no conceito de Deleuze e Guatarri. Os filmes trabalhados são “Hitler do IIIº Mundo” (1968), de José Agrippino de Paula; “Meteorango Kid, O Herói Intergalático” (1969), de André Luiz Oliveira; “Copacabana, Mon Amour” (1970), de Rogério Sganzerla, “Bang Bang” (1971), de Andrea Tonacci; e “Orgia ou o Homem Que Deu Cria” (1970), de João Silvério Trevisan.