“Eu vou falar pra dendê tem homem e tem mulher”: A ressignificação da tradição da capoeira Angola
Capoeira Angola; Tradição; Mulher; Festa; Religião.
A capoeira, expressão cultural do Atlântico negro, está presente desde da primeira diáspora africana no Brasil e hoje acompanha os deslocamentos dos seus integrantes, no mundo inteiro. Os valores que regem a “tradicional” capoeira angola são baseados na cultura hegemônica, com uma forma padronizada e excludente, e estão sendo questionados pelas minorias, principalmente pelas mulheres. O objetivo deste trabalho é desenvolver uma reflexão crítica sobre as formas engessadas de dominação hegemônica que estão inscritas em conceitos como a tradição. Para isso, procuro apontar como as relações de poder se manifestam no interior dos grupos e como são reproduzidas e contestadas nas práticas corporais e nos discursos sobre a capoeira. Pretendo analisar a ressignificação da tradição na capoeira angola a partir da atuação das mulheres nos espaços de poder. O foco deste estudo centra-se no grupo de capoeira Angola N´zinga, localizado na cidade de Salvador-BA, tendo como liderança duas mulheres. Será apresentada uma etnografia da festa de Iemanjá, na cidade de Salvador, acompanhando o grupo Nzinga. Será feita uma análise da relação da capoeira com candomblé, assim como mostrarei a importância das festas religiosas para o grupo. O fato da capoeira estar presente mundialmente acarretou uma serie de transformações, com destaque no campo das lutas políticas, com o aparecimento de novos atores sociais e de lugares de fala. O reconhecimento pelo IPHAN como patrimônio cultural do Brasil e o recente título internacional de patrimônio da humanidade pela UNESCO (2014) gerou polêmica e debates com posicionamentos divergentes em relação ao “rumo” da capoeira nesse processo. Este trabalho se debruça sobre a nova configuração política e o cenário cultural da capoeira a partir do protagonismo feminino.