Coração sonoro – afetos, máquinas e vínculos nas festas de música eletrônica
Afetos; corpo; festas de música eletrônica; máquina; vínculos.
Os afetos, as máquinas e os vínculos funcionam aqui como operadores conceituais para entender as dimensões sociais, culturais e filosóficas das festas de música eletrônica. O objetivo deste trabalho é entender como as trocas afetivas se dão em contexto social, como se expressam, como são vividas nas festas de música eletrônica nas seguintes cidades do Brasil: Florianópolis, Recife e Natal. Afeto é compreendido aqui sob a ótica de Spinoza como afecção do corpo, uma ação, uma potência de agir que pode ser aumentada ou diminuída. Essa ação pode ser de um corpo sobre o outro ou de um objeto sobre um corpo. É por meio do corpo que os afetos se realizam, tornando possível a relação com o outro e, assim, a sociedade. O corpo é encarado aqui na sua unidualidade mente-corpo, em seus aspectos existenciais, biológicos, sociais, culturais e simbólicos. Os afetos nas festas de música eletrônica podem ser provocados pela ação da música sobre os indivíduos, dos participantes entre si ou potencializados por meio das drogas, especialmente o ecstasy. Os afetos são potencializados também através das máquinas que agem diretamente sobre o corpo. As máquinas são entendidas também como extensões do corpo humano, sistemas de fluxos e cortes com capacidade de produção e criação. As máquinas podem ser artificiais, humanas e sociais. Gilles Deleuze, Félix Guattari e Edgar Morin são os principais suportes teóricos para pensar o conceito de máquina. Nas festas de música eletrônica, é possível a interação entre máquinas artificiais e humanas e essa afetação pode permitir a criação de vínculos. O vínculo é o resultado de ações (inatas ou aprendidas) do ser vivo que o aproximam do outro ou reforçam e alimentam uma proximidade já existente. O vínculo também pode ser entre humanos e coisas, é o ligar-se afetivamente a algo ou alguém. São diversos os fatores que favorecem o estabelecimento de vínculos nas festas de música eletrônica. Quando o ecstasy faz efeito, aumenta a empatia entre os presentes; a forma de dançar parecida permite que cada um se enxergue no outro; o gosto em comum pela música possibilita a aproximação do outro e a formação de vínculos sonoros. O vínculo sonoro é uma relação afetiva entre o sujeito e determinado tipo de música ou som, vai além da fruição sensorial, é uma conexão, laço. Os princípios da complexidade (dialógico, recursivo e hologramático) de Edgar Morin são utilizados como norteadores do método de pesquisa. As técnicas de investigação incluem observação etnográfica nos lugares visitados; o King Festival em Recife, o festival Dream Valley em Florianópolis, e em Natal, algumas festas específicas de música eletrônica; auto registro de depoimentos e entrevistas narrativas. Nesta etapa, o trabalho apresenta a etnografia realizada em um festival de música eletrônica em Recife, o King Festival, local em que o pesquisador realizou a experimentação como sujeito e objeto desta pesquisa, afetando e sendo afetado pela festa.