REDES CLIENTELÍSTICAS EM PEQUENAS CIDADES DO PIAUÍ: AS TROCAS POLÍTICAS ASSIMÉTRICAS ENTRE LIDERANÇAS POLÍTICAS E ELEITORES NAS ELEIÇÕES 2016-2018
Clientelismo; trocas políticas; cidadania; patrimonialismo; modernização; lideranças políticas; eleitores.
Esta pesquisa investiga a rede de trocas políticas assimétrico-clientelísticas entre as lideranças estaduais (deputados estaduais e federais) e as lideranças locais (prefeitos e vereadores) e os eleitores mais vulneráveis economicamente, nas eleições de 2016-2018, em pequenas cidades do interior do Piauí. O objetivo principal do estudo foi demonstrar a relação de cidadania/autonomia e de clientelismo/dependência existente entre estas lideranças políticas e os eleitores que, ao retribuírem os favores recebidos com seus votos, tornam-se dependentes em determinados votos (deputado estadual e deputado federal), mas exercem sua autonomia ao votarem nos demais cargos (governador, senador e presidente). Há outro objetivo que, girando em torno do principal, consiste em observar como se dá a coexistência do clientelismo e o Estado moderno, em que o clientelismo sobrevive, ajustando-se às novas estrutras das sociedades modernas. Fez-se, ainda, um contraponto ao patrimonialismo, além de enfatizar-se que a sociedade brasileira é heteróclita, contraditando essa teoria, pois ao invés de eliminar o “atraso”, durante a consolidação do processo de modernização do país, tornou-o funcional nessa nova ordem. A pesquisa é um estudo de caso em que se aplicou o método qualitativo, utilizando-se das técnicas de entrevistas em profundidade e da realização de grupos focais. A amostragem deste estudo compõe-se de quatro cidades, cada uma delas representativa de uma mesorregião do Piauí: Cocal (mesorregião Norte Piauiense), Campo Maior (mesorregião Centro-Norte Piauiense), Oeiras (mesorregião Sudeste Piauiense) e São Raimundo Nonato (mesorregião Sudoeste Piauiense). Como referencial teórico básico, citam-se Santos (2006), Vianna (1999, 2004, 2020), Bahia (2003), D´Avila Filho (2004, 2007), Carvalho (1997), Leal (2012), Hicken (2019), Osorno (2016), Schröter (2010), Auyero (2011), Stokes (2013), Luzón (1999), Souza (1998, 2015, 2016, 2017, 2018a, 2018b, 2020), Freyre (2006), Weber (2004, 2014, 2016), Holanda (2014) e Faoro (2012). Como resultado, evidenciou-se que os eleitores ao exercerem o direito de voto, fazem-no de forma dialética: clientelística e cidadã, ou seja, agem como indivíduos dependentes e, ao mesmo tempo, como autônomos; as lideranças estaduais e locais criam e mantêm acordos políticos mútuos para que ambas continuem sobrevivendo politicamente, o que significa vencer as eleições. Averiguou-se também que o clientelismo não permanece confinado às sociedades tidas como emergentes, coexistindo também em sociedades de industrialização avançada, onde o capitalismo desenvolveu-se plenamente. O Brasil é um caso de modernização que não seguiu o modelo clássico, resultando disso uma sociedade em que o “velho” e o “novo” realimentam-se um do outro, numa relação de simbiose.