TODA LUTA ESPECÍFICA É UMA LUTA POLÍTICA! Comunismo democrático e movimento universitário: 1964-1966
Comunismo; Ditadura Militar; Movimento Estudantil; Partidos Políticos; Universidade.
A partir de 1958, o Partido Comunista Brasileiro, adotou uma linha política que privilegiava a via pacífica para realização da revolução brasileira. Esta orientação reconhecia o desenvolvimento inevitável do capitalismo no Brasil e que processos sócio-históricos favoreciam o aprofundamento da democracia no país, por isso indicava os meios institucionais e legais como espaços favoráveis para o desenvolvimento das lutas dos trabalhadores urbanos e rurais contra o latifúndio e o imperialismo que, na visão do partido, estariam entravando o desenvolvimento do país. Essa tática ainda indicará a luta pelas reformas de estruturas, a participação na disputa eleitoral, e política de alianças com os mais variados setores nacionalistas, como meios para precipitar a revolução deomocrático-burguesa. A linha política democrática foi responsável, na década seguinte, por fazer o partido emergir da clandestinidade, transformando-o em um dos atores políticos mais importantes do país, chegando até mesmo a influenciar nas diretrizes do Estado. Porém, o golpe militar, em abril de 1964, foi considerado, à exceção do Comitê Central do PCB, por toda a esquerda brasileira como a falência da via pacífica, no entanto a maior parte da direção do partido decidiu manter a salvo a estratégia elaborada no V Congresso, realizado em 1960. Esta pesquisa busca compreender como a linha política democrática foi traduzida para as bases universitárias do partido, entre os anos de 1964-1966. Nos momentos anteriores ao golpe militar, no movimento universitário, esta orientação significou a formação de uma ampla aliança que englobou católicos, socialistas, os chamados independentes, pecebistas, entre outros setores progressistas e nacionalistas do movimento estudantil, hegemonizando as diretorias da União Nacional dos Estudantes e de outras entidades estudantis, bem como a direção política do movimento, desde 1958 até 1964. A historiografia do movimento estudantil apresenta uma lacuna no que diz respeito ao estudo da tática do partido para o movimento universitário no momento imediatamente posterior ao golpe, essa lacuna historiográfica que a presente pesquisa busca preencher. Para tanto, o modelo teórico que dá sustentação a essa análise tem como referência estudos sobre a relação entre partido e classe aplicada ao movimento estudantil, estabelecido por João Roberto Martins Filho (1987). A metodologia, seguindo as orientações de uma pesquisa interdisciplinar, apresenta uma abordagem qualitativa utilizando-se de pesquisa bibliográfica sobre partidos políticos comunistas, nas obras de Duverger (1970), Gorender (1987), Pandolfi (1995); acerca do Regime Militar, como por exemplo, Fico (2019), Júnior (2017) e Alves (1987); e, dos movimentos estudantis no período recortado da pesquisa através das pesquisas de Albuquerque (1977), Filho (1987), Groppo (2007) e Sanfelice (2019) e tendo como objeto de coleta de dados os jornais e documentos oficiais do PCB como, por exemplo, os jornais “Novos Rumos” e “Voz Operária”; os documentos organizacionais internos, como as “Resoluções”, “Estatutos” e “Circulares”, etc., encontrados em arquivos privados e públicos, como o “Fundo Documental Nelson Rosas” e a “Biblioteca Nacional Digital”. Dessa análise constatamos que após o golpe militar, o partido procurou preservar a legalidade democrática através das bases estudantis, indicando a manutenção da política de alianças depois do golpe, até mesmo com as interventorias colocadas nas entidades estudantis pelos militares e na participação das eleições promovidas pela Lei Suplicy, para a partir da estrutura criada pelo governo militar, com o objetivo de desmobilizar o movimento universitário e isolar a esquerda de sua direção, como suporte para a reconstrução de um movimento estudantil semelhante ao que foi no período anterior a vitória dos militares. Buscando conscientizar o estudante universitário para integrá-lo numa luta de massas, contra a ditadura militar, aquela tática previa a utilização dos aspectos mais ordinários da vida estudantil como forma de denúncia da política educacional do governo.