Hidrodinamica em canions submarinos da margem continental do Rio Grande do Norte
cânions submarinos; corrente de contorno oeste; talude continental; margem equatorial
Os processos físicos nas margens continentais controlam transporte de calor, sedimentos, compostos químicos, e de nutrientes entre a bacia oceânica e a plataforma continental, impactando diretamente nos ecossistemas dessas regiões. Os cânions submarinos da plataforma interagem com as correntes oceânicas e são potenciais canalizadores de fluxos entre as zonas costeiras e a planície abissal. Apesar da importância desses fenômenos, as interações entre correntes marinhas e cânions em baixas latitudes do atlântico sul ainda são pouco compreendidas. O objetivo deste trabalho é caracterizar os fenômenos hidrodinâmicos da margem tropical brasileira, mais precisamente em regiões com cânions submarinos em zonas de quebra da plataforma oriental e setentrional do Rio Grande do Norte (RN). Os processos físicos foram investigados usando CROCO (Coastal Regional Oceanic Community Model) para ambos os casos. Em relação ao cânion de Natal e foi desenvolvida uma simulação no CROCO utilizando batimetria regional interpolada a partir de cartas náuticas e bancos de dados globais, e validada com dados in situ. Este estudo tem como objetivo analisar a hidrodinâmica do Cânion de Natal, e seus efeitos na troca e água entre a plataforma e a bacia oceânica. A análise de correlação incluiu os componentes do fluxo do cânion, a Corrente Norte do Brasil, o transporte da plataforma média-externa e a tensão de cisalhamento do vento. Além disso, um modelo de derivadores simulando partículas em suspensão foi construído com o campo de velocidade do modelo oceânico usando o modelo Ichthyop para três posições diferentes: na borda sul do cânion, na cabeça do cânion e no caminho da corrente no talude. Os resultados mostram duas forças principais induzindo a dinâmica do cânion: i) o vento meridional, que tem o maior coeficiente de correlação com o transporte do cânion (-0,75) e ii) a Subcorrente Norte do Brasil (SCNB) com o segundo maior coeficiente de correlação (-0,64). Em todos os três cenários simulados, a corrente é forte o suficiente para transportar a
maioria das partículas em suspensão (~95%) para o norte. Apesar do transporte geral do cânion ser para o oeste, a corrente não é forte o suficiente para evitar a captura de partículas (~2%) no cânion. Uma pequena parte das partículas (<2%) alcança a plataforma interna através da cabeça do cânion e da corrente costeira. Os resultados mostram que a dinâmica do Cânion de Natal é impulsionada pelo vento e é favorável ao fluxo descendente. Este contexto impacta as partículas em suspensão e pode ajudar a explicar a condição de plataforma faminta na margem leste do Rio Grande do Norte, Brasil.
A segunda parte do trabalho constitui em uma simulação de mesma natureza desenvolvida para a margem setentrional do RN, na região dos cânions açu e validada com dados in situ. O objetivo principal é analisar os processos físicos e investigar se há ocorrência de ressurgência ou uplift nesta região. A análise foi realizada a partir de séries temporais anuais de 6 seções verticais de transporte, velocidades e temperatura, além de 16 perfis de temperatura, sendo 8 em isóbatas de 35 m e 8 em 70 m (correspondendo à plataforma externa e à quebra da plataforma, respectivamente). A camada de barreira foi calculada para a área da quebra da plataforma, visando investigar sua influência sobre os processos físicos. Os máximos transportes da Subcorrente Norte do Brasil (SCNB) foram observados em março, no final de julho e em meados de setembro. Embora não tenha sido registrado nenhum evento de ressurgência, os resultados indicam a ocorrência de uplifts na quebra da plataforma, tanto nos cânions quanto em áreas adjacentes, entre janeiro e junho. O período de maior frequência de uplifts no estudo ocorreu em março, coincidindo com picos de transporte da SCNB e ventos alísios mais fracos. Por outro lado, a ausência de uplifts de julho a setembro, mesmo diante de correntes oceânicas fortes, foi associada a ventos alísios intensos e a uma camada de barreira mais espessa, que atuaram como um obstáculos. Dessa forma, as interações entre a SCNB e a batimetria influenciam nos processos induzidos pela corrente na plataforma externa e no talude norte do RN, evidenciando a influência das correntes de contorno oeste (CCOs) na manutenção dos ecossistemas da margem equatorial brasileira. Portanto, os resultados deste trabalho mostraram que as interações entre CCOs com a Fisiografia da margem, e cânions submarinos, ocorrem de formas distintas entre o setor oriental e setentrional do Rio Grande do Norte. E contribuem para a compreensão das diferenças sedimentares e ecológicas entre as plataformas leste e norte da Margem Continental Brasileira