Estrutura crustal da bacia do Recôncavo-Tucano com inversão simultânea de dados sismológicos
Inversão simultânea; Estrutura crustal; Tectônica extensional; Bacia do Recôncavo-Tucano
Os esforços que levaram à abertura do Atlântico Sul foram responsáveis por extensões intracontinentais e, consequentemente, pela formação de um número de riftes abortados no Nordeste do Brasil. A extensão teve início no Neojurássico, com a formação de uma depressão Afro-Brasileira ao sul do Lineamento Patos, e continuou no Eoberriasiano com o rifteamento ao longo de dois eixos de deformação de direção NS: Recôncavo-Tucano-Jatobá (RTJ) e Gabon-Sergipe-Alagoas (GSA). A progressão do rifteamento se deu ao norte do Lineamento Pernambuco a partir do Neoberriasiano – Eobarremiano, migrando posteriormente para o Oeste ao longo do trend Cariri-Potiguar (CP) de direção NE-SW. No Neobarremiano, aproximadamente coincidindo com a abertura do Atlântico Equatorial, o rifteamento foi abortado ao longo dos eixos RTJ e CP, e continuou ao longo do trend GSA, eventualmente resultando na separação dos continentes. A atividade magmática na margem continental brasileira parece estar restrita ao norte do Lineamento Patos, representada pelos diques do Rio Ceará- Mirim. A história geológica do processo de rifteamento continental no NE do Brasil indica a influência de diferentes tipos de esforços extensionais nos estilos de rifteamento de cada sub-bacia. Com o objetivo de melhor entender a influência desses esforços nos possíveis modelos de rifteamento, foram instaladas 11 estações sismográficas ao longo e ao redor do trend RTJ em outubro de 2018. A instalação foi financiada pela empresa nacional de petróleo Petrobrás e incluiu estações tanto de período curto quanto de banda larga. Além disso, utilizou-se mais 10 estações da Rede Sismográfica do Nordeste (RSISNE) que estavam próximas da área de estudo. Neste trabalho será relatado sobre medidas de espessura crustal e razões Vp/Vs obtidas a partir da análise da inversão simultânea de funções do receptor e curvas de dispersão de ondas de superfície e com auxílio da metodologia de empilhamento H-k. Os resultados mostram que a crosta tem espessura de 40 km abaixo das sub-bacias do Recôncavo e Tucano e que contém uma camada espessa (5-8 km) de materiais de alta velocidade (Vs > 4.0 km/s) abaixo de 35 km. Essas observações contrastam com a estrutura imediatamente a Oeste (Cráton São Francisco) e a Leste (Província Borborema) da bacia, para a qual as espessuras crustais são da ordem de 44 km e 36 km, respectivamente, as velocidades crustais mais baixas estão abaixo de 4,0 km/s, e instâncias locais de crosta tão finas quanto 31 km são observadas. Desta forma propomos, de acordo com o modelo 'flexural cantilever', que a camada de alta velocidade que forma a crosta mais inferior da bacia, resultou de underplating máfico após o alongamento e afinamento durante a fase sin-rifte, restaurando a espessura da crosta à valores da fase pre-rift (ou maiores) e fornecendo a flutuabilidade necessária para iniciar um soerguimento regional. Além disso, embora não sejam generalizados, os casos de crosta fina ao longo da lapa podem estar relacionados à erosão do tipo ‘rift flank’. Concluímos então que, independentemente do modo de extensão na crosta superior, nossos resultados favorecem modelos de formação de bacias que envolvem a extensão da crosta inferior por cisalhamento puro