Análise estratigráfica e diagenética dos depósitos siliciclásticos-carbonáticos que registram a passagem do Cenomaniano-Turoniano na Bacia Potiguar, NE do Brasil.
Transgressão Cenomaniano-Turoniano, Depósitos siliciclásticos-carbonáticos, Assinaturas icnológicas, Estratigrafia de Sequências, Diagênese, Bacia Potiguar.
A passagem do Cenomaniano para o Turoniano é reconhecida globalmente como a maior transgressão marinha ocorrida nos últimos 250 Ma. Na Bacia Potiguar, o intervalo estratigráfico que regista a ocorrência desta transgressão é representado pela transição entre os depósitos siliciclásticos e híbridos das Unidades Açu-3 e Açu-4 para as rochas carbonáticas da Formação Jandaíra. A reconstrução paleoambiental foi realizada a partir de uma análise faciológica que permitiu identificar trinta e oito fácies, sendo vinte e sete siliciclásticas, duas híbridas e treze carbonáticas. A relação vertical das fácies permitiu compreender que o intervalo estratigráfico estudado representa a passagem gradual de um sistema fluvial entrelaçado (Unidade Açu-3) para um complexo estuarino dominado por marés (Unidade Açu-4), depositados no Neocenomaniano e, a partir daí, a transgressão continuou avançando para o Eoturoniano, onde foi implantada uma ampla rampa carbonática em ambiente marinho raso. A icnofauna presente nos depósitos registra as variações de salinidade ao longo desta transgressão. Quinze icnofábricas foram reconhecidas, das quais duas ocorrem preferencialmente nos depósitos que caracterizam um sistema fluvial entrelaçado e sistema fluvial meandrante dominado por marés (Camborygma e Taenidium barretti), uma está presente apenas nos depósitos de praia (Macaronichnus) e as demais ocorrem associadas aos depósitos estuarinos medianos a distais, de inframaré/laguna e de barras de marés carbonáticas (Chondrites, Conichnus, Diplocraterion, Macanopsis, Palaeophycus, Planolites-Palaeophycus-Helminthopsis, Ophiomorpha, Teichichnus, Thalassinoides, Thalassinoides-Ophiomorpha,Thalassinoides- Planolites-Palaeophycus e Thalassinoides-Rhizocorallium-Teichichnus). A análise petrográfica permitiu dividir as rochas estudadas em arenitos, arenitos híbridos e rochas carbonáticas. Os arenitos são formados por grãos extrabaciais e foram classificados como arcóseos, já os arenitos híbridos apresentam elevadas percentagens em grãos carbonáticos intrabaciais e não-carbonáticos intrabaciais, quando comparados com os grãos extraclastos. Por fim, as rochas carbonáticas são constituídas por mudstones até rudstones, onde há um enorme predomínio de grãos intrabaciais (carbonáticas e não-carbonáticos) relativamente aos extraclastos. A análise diagenética permitiu identificar que no ínicio desta transgressão o ambiente era continental sob condições áridas evoluindo, no seu término, para uma eodiagênese marinha. Por fim, na análise estratigráfica foram reconhecidas quatro sequências deposicionais. A Sequência Deposicional 1 é a mais basal do intervalo estudado e é composta predominantemente por rochas siliciclásticas. A Sequência Deposicional 2 marca uma mudança no padrão de sedimentação, passando de exclusivamente siliciclástica, para mista siliciclástica-carbonática e desta, para carbonática. Por fim, as Sequências Deposicionais 3 e 4 são formadas por rochas carbonáticas e marca o estabelecimento das condições marinhas francas ao final da transgressão cenomaniana-turoniana.