O USO DO TERRITÓRIO E O CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DE CELULOSE EM MATO GROSSO DO SUL
Circuito Espacial Produtivo; Celulose; Uso Corporativo do Território; Mato Grosso do Sul.
A partir de meados da década de 2000, o circuito espacial produtivo de celulose se expandiu
em Mato Grosso do Sul, sobretudo em sua região Leste. Em menos de uma década, a
expansão deste circuito inseriu o referido estado entre os principais produtores de eucalipto e
de celulose do Brasil, além de torná-lo o principal exportador de celulose. Neste contexto, o
objetivo geral desta pesquisa consiste em compreender o uso do território pelo circuito
espacial de produção de celulose em Mato Grosso do Sul, bem como seus desdobramentos
econômicos, sociais e ambientais. A partir dos procedimentos metodológicos adotados,
constatou-se que a expansão do circuito espacial produtivo de celulose em Mato Grosso do
Sul é resultado da nova divisão territorial do trabalho vinculada à produção de papel,
caracterizada, na escala global, pela transferência da produção florestal e de celulose – etapas
iniciais da produção de papel – dos países do Norte para os países do Sul e, na escala
nacional, pela interiorização da produção florestal e de celulose. Entende-se que a escolha da
região Leste de Mato Grosso do Sul para a expansão do circuito pesquisado ocorreu devido à
combinação de oito fatores, sendo a atuação estatal, nas instâncias federal, estadual e
municipal, o mais preponderante em razão da criação de condições ideais, sobretudo do ponto
de vista econômico, normativo e infraestrutural, para a utilização corporativa do território sul-mato-grossense por parte das companhias produtoras de celulose. Ademais, outro aspecto que
merece destaque se refere à multiescalaridade geográfica do circuito investigado. Isso porque,
apesar da transferência das etapas iniciais da produção de papel dos países do Norte para os
do Sul, os primeiros continuam sendo os grandes fornecedores de tecnologias para os projetos
de celulose instalados nos segundos, além de estarem entre os principais consumidores da
celulose produzida nestes. Este contexto demonstra que o circuito espacial produtivo de
celulose em Mato Grosso do Sul está articulado a partir de diferentes escalas, desde a global
até a local, por meio de fluxos materiais e imateriais de diversas ordens, conteúdos e
intensidades. Articulação possibilitada por círculos de cooperação no espaço bem definidos,
que, a partir das verticalidades do mercado global, contribuem para a inserção de lógicas
externas ao lugar, provocando diversos desdobramentos na cidade, no campo e no mercado de
trabalho, os quais revelam o caráter contraproducente do circuito estudado, além de
evidenciarem suas dimensões social e ambiental, fundamentais para a compreensão da
totalidade de um circuito espacial produtivo, especialmente os intensivos em recursos
naturais.