Paisagens festivas de um Ceará Negro
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Conhecido como “Terra da Luz” por seu processo exemplar de abolição antecipada, o estado do Ceará tem, assim como todo o Brasil, uma lacuna e uma divida gigantesca com negras e negros brasileiros e africanos que aqui chegaram escravizados, sendo necessário, para além da entrada de negros e negras nas universidades públicas o incentivo a pesquisas relacionadas a toda essa população, seus métodos de existência e resistência ao longo dos anos, principalmente a partir de seus aspectos culturais. Esse trabalho tem como objetivo tratar sobre paisagens culturais, em especial, paisagens festivas negras no estado do Ceará, partindo para tanto, de festas existentes em tempos/espaços distintos, sendo elas, as festas que ocorriam principalmente na cidade de Fortaleza durante as últimas décadas do séc. XIX até festas realizadas em duas comunidades quilombolas rurais, sendo, a Dança de São Gonçalo realizada no Sitio Veiga no município de Quixadá e a Festa de Nossa Senhora de Nazaré, em Nazaré, localizada no município de Itapipoca. Após séculos de trabalho e alcance de liberdade oficialmente a partir de uma lei sem garantia de direitos, a população negra no Brasil se viu excluída e durante muito tempo esquecida e negligenciada. Esses processos de negação e extermínio institucionalizados, existentes ainda hoje, tem como algumas de suas gêneses movimentos que ocorreram principalmente entre os fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, indo desde os movimentos culturais modernistas eurocêntricos até mesmo as políticas públicas de branqueamento implementadas a partir de múltiplas maneiras em todo território nacional. Construído a partir de uma autobiogeografia esse trabalho é como um encontro consciente a toda uma cultura negra resistente, reinventada e viva ao tempo que é também um chamado a reflexões e ações sobre relações étnico-raciais, direito ao olhar, a paisagem, a imagem, a memória e consequentemente a um devir. Elaborado a partir de narrativas escritas e visuais é também uma tentativa de abertura a novas formas do fazer Geografia, utilizando-se assim de ferramentas já conhecidas para uma caminhada de subversão, como tantas negras e negros o fizeram antes para que minha existência e a existência deste fosse então possível.