A cor da relação. Corpo e Afetividade: mulheres negras em um bairro da Zona Norte de Natal
Afetividade; Mulheres Negras; Trajetórias de vida; Zona Norte de Natal; Interseccionalidade.
Este trabalho apresentará resultados de pesquisa que tem como objetivo etnografar e analisar as experiências afetivas de mulheres negras brasileiras, mais precisamente residentes na cidade de Natal/RN. Me interessa explorar de que forma a expressão dos afetos e a construção de relações erótico-afetivas estão relacionadas com a dimensão racial. As interlocutoras da pesquisa são seis mulheres negras residentes num bairro considerado periférico na cidade, nas idades adultas, todas acima dos cinquenta anos. Logo, esse trabalho trará à tona um aspecto que não tem sido frequentemente tratado em estudos que tomam como cerne o tema da raça no Brasil, a afetividade. Com isso, a pesquisa reconhece que também a construção subjetiva das relações afetivas carrega as marcas da história de dominação e subalternização das pessoas negras no Brasil. Com algumas exceções, os trabalhos acadêmicos têm focado nos impactos negativos da organização racial do país, em matéria socioeconômica, para os negros e as negras brasileiras. Porém, poucas pesquisas têm indagado de que forma essas desigualdades e opressões históricas também influenciaram a construção subjetiva das pessoas em relação à dimensão afetiva das suas vidas. Ou seja, reconhecemos pouco que as escolhas sexuais e os arranjos erótico-afetivos também são parte do processo histórico da desigualdade que caracteriza as relações raciais da população negra no Brasil. A partir disso, considero que refletir sobre a afetividade através da escuta de trajetórias de vida, possa ajudar a situar melhor tais questões na atualidade, afinal, como as mulheres negras pensam a si e a essas questões? Repensar tais papeis relegados a esses corpos pode ser extremamente significante quando falamos de mercado afetivo, matrimônio e constituição de famílias. Logo, a proposta de pesquisa é entender em que medida estereótipos e outras construções sociais informadas pela raça, pelo gênero, pela classe, sexualidade e geração se interseccionam e impactam na construção de vínculos afetivos de algumas mulheres negras.