A SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE UM HOSPITAL EM SÃO LUÍS-MA NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO COVID-19
Saúde mental; sofrimento psíquico; saúde do trabalhador; COVID-19; processo de trabalho.
Este estudo teve como objetivo identificar a ocorrência de sofrimento psíquico, inclusive de transtornos mentais, entre os profissionais de saúde da UTI de um hospital da rede pública de São Luís, Maranhão, no contexto pandêmico da COVID-19, e sua associação com os processos de trabalho, a partir da percepção dos envolvidos. A pesquisa consistiu em um estudo de caso único que abordou por meio de métodos e técnicas de análise qualitativa a compreensão dos sinais e sintomas e as mudanças na qualidade de vida e nos processos de trabalho. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas com os profissionais desta UTI, que foram transcritas e submetidas à análise de conteúdo dos discursos dos profissionais. Os resultados da pesquisa evidenciaram um contexto de crise sanitária de caráter internacional, com suas características locais de aumento exponencial de casos e óbitos, oferta de leitos desproporcional às necessidades, carência de equipamentos de proteção e insumos, despreparo técnico e de gestão para enfrentar a crise, mudanças emergenciais nos processos e ambientes de trabalho. O cenário de medo, inseguranças, incertezas e sofrimento psíquico complementam o quadro de adversidades que caracterizam este contexto. Um conjunto de situações e vivências aparentemente contraditórias foram encontradas que mostram traumas e sintomas psicológicos frente ao eminente risco de morrer, contagiar e matar entes queridos, somatizações, luto prolongado, estresses contínuos, dificuldades para “desacelerar”, problemas com o sono e alimentação, sintomas depressivos e transtornos de ansiedade. Os entrevistados reconhecem que essas experiências interferem no processo de trabalho e na qualidade de vida, no âmbito da UTI e em outros espaços de sua atuação. Os conflitos interpessoais, insatisfações profissionais, problemas de comunicação entre os profissionais e gestores, e fragilidades no processo de educação permanente, também contribuem de forma relevante para a situação dramática que torna simultaneamente os cuidadores agentes e objeto de cuidados.