PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DOS RESÍDUOS DA CANA-DE-AÇÚCAR
digestão anaeróbia, resíduos de cana-de-açúcar, potencial
bioquímico de metano (BMP).
O setor sucroenergético brasileiro gera grandes volumes de resíduos, como a vinhaça
e o bagaço de cana-de-açúcar, cuja valorização é estratégica no contexto de transição
energética e redução de emissões. Entretanto, esta valorização apresenta desafios para rotas
bioquímicas como a digestão anaeróbia, sendo relevante investigar, de forma integrada, o
efeito da co-digestão da vinhaça na produção e qualidade do biogás, incluindo a aplicação
de um pré-tratamento simples para melhorar o rendimento. Este trabalho tem como objetivo
avaliar o potencial bioquímico de metano (BMP) da vinhaça, do bagaço cru, do bagaço
tratado por pré-tratamento hidrotérmico e de suas combinações, em ensaios conduzidos em
escala laboratorial e condições mesofílicas. Foram determinadas as produções específicas
cumulativas de metano, a formação de H₂S, os parâmetros cinéticos ajustados aos modelos
de Gompertz modificado e Cone, e o potencial energético do biogás gerado. Os resultados
indicaram que a monodigestão de vinhaça apresentou maior produção de metano
(293 mL CH₄/ g SV), seguida pelas co-digestões com bagaço tratado e cru (226 mL CH4/g
SV e 206 mL CH4/g SV) e, por último, pelas monodigestões de bagaço cru e tratado (165
mL CH4/g SV e (151 mL CH4/g SV). O pré-tratamento hidrotérmico aplicado ao bagaço
não aumentou a produção de metano, sugerindo possível formação de compostos inibitórios
e remoção de açúcares solúveis. A co-digestão reduziu a fase lag e diluiu a produção de
H₂S, cuja concentração foi maior em sistemas contendo vinhaça. Embora a avaliação
energética tenha mostrado que a queima direta do bagaço apresenta maior energia por
unidade de massa, a rota bioquímica oferece vantagens ambientais e de aproveitamento
integrado de resíduos. Os resultados reforçam a viabilidade técnica da digestão anaeróbia
como alternativa sustentável para o aproveitamento energético de subprodutos da cana-deaçúcar
e apontam para a necessidade de otimização de pré-tratamentos e ampliação da
capacidade nacional de produção de biometano.