CASAS-SEDE E ENGENHOS DO BREJO PARAIBANO: UMA LEITURA FENOMENOLÓGICA DO ESPAÇO HABITADO
Arquitetura Rural; Fenomenologia; Memória Coletiva.
Entre os séculos XVIII e XX, a microrregião do Brejo Paraibano passou por transformações significativas em sua organização social e econômica, acompanhando distintos ciclos de exploração de recursos naturais e atividades agrícolas. Esse contexto histórico propiciou o surgimento de uma elite rural que elegeu as casas-sede como meio de expressão de seus valores e aspirações sociais, materializando na arquitetura seus códigos culturais e simbólicos. Este estudo buscou compreender as percepções dos moradores rurais acerca desses espaços arquitetônicos, examinando tanto o cotidiano quanto as relações socioculturais estabelecidas no ambiente construído. Para tanto, as casas-sede foram tratadas como lugares de memória e pertencimento no âmbito da arquitetura rural, adotando-se uma metodologia que integrou pesquisa bibliográfica e documental, trabalho de campo, entrevistas e análise fenomenológica. Os resultados demonstram que essas edificações transcendem sua função prática original para se constituírem em espaços de construção identitária e memória coletiva, convertendo-se em repositórios de saberes tradicionais e práticas sociais. A abordagem fenomenológica revelou-se fundamental para compreender a relação entre moradores e ambiente construído, permitindo identificar como os significados são elaborados mediante práticas cotidianas e interação multissensorial com o espaço. A pesquisa identificou a materialização do “espírito do lugar” por meio de três dimensões interconectadas: a organização espacial que preserva hierarquias tradicionais, a conservação de objetos portadores de significado afetivo e as práticas culturais que ressignificam os usos dos espaços. Conclui-se que a arquitetura rural do Brejo Paraibano, particularmente as casassede, constitui um sistema cultural complexo, no qual se articulam dimensões materiais, simbólicas e afetivas do habitar, revelado numa configuração que evidencia a vitalidade desses ambientes como testemunhos de modos de vida em constante processo de atualização cultural. Espera-se que este estudo contribua para o avanço do conhecimento e estimule novas investigações que articulem preservação arquitetônica, valorização de identidades culturais e desenvolvimento territorial sustentável, reafirmando a importância dessas edificações como documentos vivos da história social e cultural do mundo rural.