Movimentos de resistência na cidade de Natal-RN: estrategias de (re)apropriação cotidiana através de intervenções temporárias
Resistencia; Apropriação; Intervenções temporárias; Direito à cidade; Natal.
O crescente avanço tecnológico, o processo de globalização, as diversas redes de comunicação, a fluidez e a liquidez das novas relações, quando aliadas a um constante crescimento de políticas neoliberais, traduzem nas cidades os anseios do capital e dos grandes investimentos, gerando novas condições de uso dos seus espaços e distanciando as pessoas cada vez mais dos espaços públicos. A vida pública passa a se enclausurar em espaços privados e dar margem ao surgimento de movimentos temporários na cidade que buscam inferir e gerar novas formas de uso e apropriação do espaço público. É por meio dessas ações, que muitas vezes fazem uso de áreas subutilizadas, que se reconquistam os direitos democráticos e sociais no urbano e assim, elas surgem como uma relutância a esse modelo de cidade onde por meio dessas práticas é possível imprimir um verdadeiro sentido e identidade aos lugares. Tais intervenções são tidas como efêmeras por nem sempre deixarem vestígios no espaço; normalmente são movidas por grupos e acontecem através de ações espontâneas, da utilização de praças, canteiros, calçadas e até mesmo em espaços privados livres ou edificados (edifícios abandonados), transformando-os durante um intervalo de tempo e realizando atividades culturais, artísticas e políticas, que despertam o interesse das pessoas e movimentam os seus entornos. Dessa forma, o objetivo principal da pesquisa foi compreender essas estratégias nos espaços livres públicos - intervenções temporárias - e a sua relação com a democratização do acesso à cidade, a partir de (1) uma reflexão teórica baseada no contexto socioespacial das cidades contemporâneas e na sua relação com o surgimento destas intervenções temporárias no espaço público; da (2) classificação dos espaços que são objeto das atividades de apropriação por meio de intervenções temporárias na cidade de Natal; de uma (3) relação feita a partir dos tipos de intervenções temporárias com as configurações espaciais dos espaços ocupados por estas; e por fim, de (4) uma discussão elaborada através das ações dos agentes sociais envolvidos nas intervenções temporárias. Diversos autores realizaram uma reflexão teórica contextualizando o tema da modernidade nas cidades contemporâneas assim como o que seria tratado aqui como resistência; e a partir de Adriana Sansão Fontes (2011), Peter Bishop (2012), Rogerio Proença Leite (2002) e Carlos Magnani (2003) foi realizada uma e caracterização das atuais práticas de apropriação através de intervenções temporárias e as suas interferências na cidade. Com isso, a metodologia utilizada fez uso de um mapeamento e catalogação inicial dessas intervenções, em um reconhecimento inicial; e seguiu sua análise através de estudos de casos mais aprofundados que se basearam em entrevistas semiestruturadas e cartografias sociais realizadas juntamente com os atores envolvidos. Buscou-se com essa dissertação refletir a importância dessas ações temporárias no contexto atual das cidades contemporâneas, na criação de novos lugares, no despertar de novas formas de apropriação e uso do espaço público livre. As intervenções temporárias mapeadas e analisadas na cidade de Natal são portanto vistas aqui como ações de resistência e de luta e possuem lugar fundamental no processo de democratização do direito ao acesso à cidade.