O lugar do HIV/aids nas práticas de saúde de uma unidade básica de saúde no sertão nordestino
HIV/aids; Atenção Básica; Sexualidade
INTRODUÇÃO: O surgimento de uma nova doença no início da década de 1980 identificada pela sigla aids provocou mudanças significativas em diversos campos além da saúde, principalmente por combinar comportamento sexual e doença, conferindo maior visibilidade a questões relacionadas à sexualidade, considerando a via sexual, uma das principais formas de transmissão. A disseminação da infecção pelo HIV no Brasil se manifestou como uma epidemia com múltiplas dimensões, resultante das profundas desigualdades sociais do país com transformações significativas em seu perfil epidemiológico. Dentre estas está a interiorização, com a difusão geográfica da doença dos grandes centros urbanos para os municípios do interior do país. Considerando os aspectos históricos e a experiência enquanto enfermeira de uma Unidade Básica de Saúde, no interior do sertão nordestino brasileiro, na qual o cenário de práticas em saúde reproduz a marginalização da condição do HIV/aids surgiu o interesse com o estudo. OBJETIVO: Compreender qual o lugar do HIV/aids nas práticas de saúde no cotidiano de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), no sertão nordestino. METODOLOGIA: Trata-se de uma etnografia, cujo trabalho de campo foi realizado entre julho e novembro de 2018 em uma UBS do município de Caicó/RN. Os atores envolvidos foram os profissionais que compõem as duas equipes de saúde da família desse serviço. Foram utilizadas observação participante, entrevistas individuais semiestruturadas e questionário sociodemográfico. Os dados foram analisados por meio da técnica de codificação temática. RESULTADOS: A análise apontou para a invisibilidade e apagamento social das PVHA no território deste serviço, podendo está associado: ao preconceito social; a ausência de espaços privativos entre os profissionais e estas pessoas; e a deficiência de discussões e conhecimento dos profissionais para lidar com a condição do HIV/aids. Outro resultado foi a evidência dos marcadores sociais da diferença: sexualidade, gênero e o contexto do lugar do estudo como potenciadores de questões que reforçam e configuram o preconceito e estigma local. E por último a dificuldade dos profissionais com o trabalho direcionado tanto para as PVHA quanto para o HIV/aids no geral, possivelmente sendo fruto de valores morais históricos carregado por estes, associado a ausência de educação permanente e de uma política de saúde municipal e estadual focada nestas questões. CONCLUSÃO: A aproximação com o tema proporcionou a visualização de uma problemática importante sobre o HIV/aids, sinalizando uma fragilidade de uma unidade de saúde específica da Atenção Básica em incorporar aos seus serviços intervenções que contemplem as PVHA e as dimensões do HIV/aids. Possibilitou mudanças no meu olhar profissional antes limitado e restrito a elementos historicamente repassados. O estudo torna-se combustível para o caminho da transformação profissional que ainda não alcancei em plenitude, mas que já trilho ciente de que há muito pela frente, além disso, forneceu instrumentos que me possibilita ser agente multiplicador. E por fim, contribui para subsidiar discussões acerca do tema e do atual cenário político associado à saúde pública.