MEDIDA DA PARTICIPAÇÃO E DO AMBIENTE DE CRIANÇAS E JOVENS (PEM-CY): ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL PARA O USO NO BRASIL
Criança, Jovem, Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, Participação, Ambiente, PEM-CY.
Introdução: A participação é definida pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) como o envolvimento do indivíduo em situações cotidianas, sendo determinada por fatores intrínsecos e do ambiente. Objetivos: Realizar a adaptação transcultural da Medida da Participação e do Ambiente – Crianças e Jovens (PEM-CY) para o português do Brasil; e analisar as suas propriedades psicométricas numa amostra de crianças e jovens com e sem deficiência, com idades entre 5-17 anos. Métodos: Trata-se de um estudo metodológico desenvolvido em duas etapas. A primeira compreendeu o processo de adaptação transcultural, que foi dividido e executado em cinco estágios, seguindo a metodologia amplamente utilizada e recomendada por Beaton e Colaboradores. Os estágios foram divididos em: (I) Adaptação inicial para o português do Brasil; (II) Síntese das versões; (III) Retrotradução; (IV) Comitê de especialistas; (V) Compreensão pelos pais e retrotradução para aprovação final. A segunda etapa foi caracterizada pela aplicação do questionário a 101 pais e/ou responsáveis de crianças e jovens com e sem deficiência, provenientes de 3 estados brasileiros, com o objetivo de atestar suas propriedades psicométricas, bem como identificar supostas diferenças em quanto à participação e características do ambiente em casa, na escola e na comunidade entre os dois grupos. Resultados: Foram realizadas modificações linguísticas e gramaticais para facilitar a fluência, interpretação e compreensão na leitura do instrumento, bem como para tornar as expressões mais equivalentes à linguagem na primeira etapa do estudo, dando origem à versão definitiva da PEM-CY Brasil, a qual foi aprovada pelos autores da versão original e encontra-se comercialmente disponível no site oficial do CanChild. Na segunda etapa, das 101 crianças e jovens coletados, 62 apresentavam deficiência física e 39 apresentavam desenvolvimento típico; 45,5% eram do sexo feminino e 54,5% do sexo masculino, com média de idade de 9,36 anos (+/- 3,47). A consistência interna do instrumento variou de boa a excelente quando considerados todos os itens de participação e do ambiente, respectivamente, nos cenários da casa (α=0,873 e α=0,760), da escola (α=0,877 e α=0,948) e da comunidade (α=0,889 e α=0,855). Houve diferenças significativas entre os grupos em quanto ao número de atividades realizadas nos três cenários, indicando que crianças com deficiência participaram em menor número de atividades em casa (p=0,000), na escola (p=0,001) e na comunidade (p=0,000). As crianças com deficiência estiveram menos envolvidas que seus pares sem deficiência nas atividades no cenário escola (p=0,034). Em relação ao ambiente, o grupo com deficiência percebeu maiores barreiras em casa (p=0,001) e menos ajudas nos cenários casa (p=0,000), escola (p=0,002) e comunidade (p= 0,011) que o grupo sem deficiência. Conclusão: Após o processo de adaptação transcultural, a versão brasileira da PEM-CY pode ser considerada um instrumento válido e confiável para medir a participação em atividades em casa, na escola e na comunidade, bem como as características do ambiente. Ao mesmo tempo, o instrumento possibilitou identificar diferenças entre crianças e jovens com e sem deficiência em relação à participação e ao ambiente.