DA REPRODUÇÃO A PRODUÇÃO TEXTUAL: A PRÁTICA DA ESCRITA NA SALA DE AULA
Prática de Escrita, discurso de outrem, atividade criadora da linguagem.
A partir da análise de textos escritos por alunos do 9º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Professora Nazaré de Andrade Duarte, município de Goianinha/RN, observamos uma tendência de o aluno reproduzir o discurso alheio pautado no “ritual” contemporâneo do “copiar/colar”. Diante desse diagnóstico, vimos a necessidade de se ensinar a utilização das formas sintáticas do discurso relatado, mais especificamente, o discurso direto, o discurso indireto, a modalização em discurso segundo e a ilha textual. O “ponto de partida” e o “ponto de chegada”, deste estudo, é o texto da esfera jornalística.Pretendemos responder as seguintes perguntas de pesquisa: de que forma os alunos, no gerenciamento com outras vozes, mobilizam as formas sintáticas do discurso citado ao escrever textos do domínio jornalístico?Que tipos de atividades reflexivas da/sobre a linguagem podem contribuir no desenvolvimento da modalidade escrita dos alunos? Temos por objetivo geral desenvolver a prática de escrita dos alunos por meio do trabalho reflexivo com discurso de outrem, via aplicação de uma proposta de intervenção. Elencamos como objetivos específicos: a) mapear as formas linguísticas mais recorrentes que indiciem o modo como os alunos lidam com as vozes alheias, b) analisar os efeitos de sentido que o uso dessas formas sintáticas da enunciação provoca na escrita dos alunos, c) propor atividades didáticas na qual a utilização do discurso-outro ultrapasse, na prática de escrita, o ritual do copiar/colar e d) cotejar os dados gerados, dando ênfase às contribuições que essa proposta de ensino possibilitou aos escreventes no desenvolvimento da habilidade escritora.Por hipótese, entendemos que as formas de remissão do discurso alheio é um fenômeno linguístico ensinável e, por assim ser, também é aprendível. Adotamos como procedimentos metodológicos os estudos da atividade criadora da linguagem, proposto por Franchi (1987), por isso organizamos atividades didáticas em que a escrita seja entendida como um processo de reflexão. A constituição do corpus ocorre em três situações reais de produção escrita. Na primeira, atividade linguística, localizamos os problemas da escrita. O intuito desse registro é a descrição e análise da presença ou ausência das formas de citar o outro. A partir desse diagnóstico, elaboramos e aplicamos atividades em que esse “saber linguístico” seja exercitado (atividade epilinguística). Após a essa fase mais ostensiva, verificamos se o aluno já conhece, reconhece e faz uso proficiente das formas de remissão do discurso alheio (atividade metalinguística). Tomamos como aporte teórico, a natureza dialógica da linguagem de Bakhtin (2014), e, nessa perspectiva, a leitura, a escrita e a análise linguística são atividades da interação entre os sujeitos produtores de sentido (GERALDI, 2009, 2010, 2013); e de enunciação, a partir do conceito de heterogeneidade enunciativa, sobretudo, as estruturas linguísticas materializadas no discurso, difundido por Authier-Revuz (1990, 2004) e Maingueneau (2001). Os resultados apontam que o ensino das formas sintáticas do discurso relatado pode constituir-se como uma prática exitosa de ensino-aprendizagem da escrita no ensino fundamental.