O ENSINO DO LIDAR COM A MORTE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA.
Educação médica. Morte. Atenção primária à saúde. Docentes.
Ao longo do tempo, os avanços na ciência e na tecnologia biomédica foram cada vez mais incrementados, contribuindo para a falsa ideia sobre a possibilidade de controle e domínio da morte. A morte é um tema interditado, evitado tanto na sociedade leiga quanto no diálogo entre médicos e pacientes, pois é encarada como um fracasso profissional na área da saúde. O ensino do lidar com a morte na educação médica tem sido objeto de atenção de alguns autores, mas mudanças na formação médica com o aprofundamento dessa temática ocorrem muito lentamente. O objetivo desta pesquisa foi compreender os caminhos do ensino do lidar com a morte no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se de uma pesquisa qualitativa feita a partir da colaboração de professores do curso de medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), escolhidos entre os docentes envolvidos em experiências curriculares na APS. Foram combinadas duas estratégias tecno-metodológicas: entrevistas em profundidade com roteiro e oficina com utilização de “cenas” projetivas. Para análise e interpretação das narrativas recorremos à Hermenêutica Gadameriana. Nos resultados, apontou-se que o ensino do lidar com a morte na UFPB é insuficiente e hegemonicamente tecnicista, apesar de, nas práticas pedagógicas em APS, haver uma proposta de ensino-aprendizagem ativa, baseada na problematização de situações concretas, que busca diminuir a distância entre a formação técnica e humana. Para os docentes, o ensino do lidar com a morte deveria acontecer, a partir de uma abordagem multidimensional, ao longo de toda a formação médica. Identificamos quatro habilidades ou competências para o cuidado humanizado no lidar com a morte na APS: tentar salvar, promover qualidade de morte, estar presente até o fim e valorizar a dimensão da espiritualidade. São limites dos espaços curriculares na APS para o ensino do lidar com a morte: práticas de ensino tecnificadas, fragmentadas, com avaliações e metodologias tradicionais; a falta de aprofundamento pedagógico e de integração no currículo médico; e as fragilidades dos serviços de APS. São potencialidades dos espaços curriculares na APS para o ensino do lidar com a morte a aproximação com as dinâmicas de adoecimentos e lutas da população, através de práticas mais dialogadas e que incentivem o protagonismo estudantil e o trabalho interdisciplinar. A metodologia de utilização de “cenas” projetivas mostrou ser uma ferramenta interessante para o ensino do lidar com a morte. Conclui-se que esta pesquisa permitiu identificar elementos capazes de iluminar novos modos de saber-fazer para um cuidado humanizado diante do adoecer e morrer.