FATORES ASSOCIADOS À HESITAÇÃO DA VACINA CONTRA O PAPILOMAVÍRUS HUMANO NA POPULAÇÃO BRASILEIRA: UM ESTUDO TRANSVERSAL
Vacina contra HPV. Hesitação Vacinal. Câncer cervical.
Os tumores relacionados ao papilomavírus humano (HPV) continuam sendo uma das principais causas de câncer a nível mundial, principalmente do câncer cervical (CC). No Brasil, o CC é o terceiro câncer mais comum e a quarta maior taxa de mortalidade por câncer entre as mulheres. Imunização em massa contra o HPV representa a intervenção mais promissora para a prevenção do CC. Ela foi implementada pela primeira vez no sistema público de saúde brasileiro em 2014, no entanto, apesar de um histórico de excelente cobertura para outras vacinas, a vacina contra o HPV está abaixo do limite necessário para a eliminação do CC. Identificar os fatores que influenciam a hesitação da vacina contra o HPV é um passo essencial para avançar no desenvolvimento de estratégias para melhorar a cobertura vacinal. O objetivo desse estudo é saber se os brasileiros são ou não resistentes a vacinação contra o HPV e determinar os fatores e variáveis que influenciam essa decisão. Trata-se de um estudo transversal de base populacional que utilizou metodologia quantitativa por meio de entrevistas pessoais. Um total de 2.010 entrevistas foram planejadas para resultar em uma margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos considerando um nível de confiança de 95%, abrangendo todos as cinco regiões brasileira. A pesquisa foi realizada com a população brasileira de 16 anos ou mais, os entrevistados foram abordados em pontos de fluxo populacional. Entre 12 e 16 de junho de 2023, um total de 2.010 entrevistas pessoais foram realizadas, com participantes das cinco regiões brasileiras. A prevalência de resistência à vacina foi de 5,97% (intervalo de confiança [IC] de 95%, 4,93-7,23) entre os entrevistados. Uma análise multivariada demonstrou maior resistência à vacina entre homens (razão de prevalência (RP): 1,58; IC95% 1,06-2,34; p: 0,023) e ser residente na região Sul do país (RP: 1,77; IC95%, 1,06-2,94; p: 0,028). As três principais razões para recusar a vacina relatadas pelos participantes foram: falta de conhecimento sobre a vacina contra o HPV; dificuldade de acesso à vacina e falta de prescrição da vacina pelos profissionais de saúde. A segurança foi o principal motivo para não vacinar, citada por 10%. Apesar da disponibilidade da vacina contra o HPV no Brasil pelo sistema de saúde pública, a cobertura vacinal permanece abaixo da meta para ambos os sexos. No entanto, de acordo com esta análise, há uma baixa taxa de hesitação a vacina contra o HPV no país, falta de conhecimento, dificuldade de acesso e falta de prescrição da vacina pelos profissionais da saúde são os principais obstáculos à adesão adequada. A pandemia de COVID-19 não parece afetar a resistência a vacinação contra o HPV no país. Estratégias adequadas para implementação de vacinas, incluindo programas escolares, comunicação, educação, monitoramento e avaliações integrados são estratégias necessárias, caso contrário os programas de vacina contra o HPV correm o risco de repetir os problemas semelhantes aos de outros programas de prevenção de câncer em países de baixa e média renda. A vacina contra o HPV é uma ferramenta eficiente para prevenção do câncer, que salva vidas, mas, no Brasil está sendo subutilizada.