DA GRADUAÇÃO À RESIDÊNCIA: PERSPECTIVA E ANÁLISE DOS PROCESSOS FORMATIVOS NA VISÃO DO RESIDENTE EM SAÚDE
Internato não médico. Educação Superior. Formação Profissional em Saúde. Educação Interprofissional. Educação Baseada em Competências.
As transformações na sociedade e no processo saúde-doença no Brasil evidenciam a importância de se ter profissionais e serviços que atuem mediante as necessidades em saúde, de maneira a fortalecer os preceitos do Sistema Único de Saúde. Nessa perspectiva, dá-se ênfase ao trabalho interprofissional, colaborativo, mediante práticas educativas emancipatórias, que promovam a conexão teoria-prática, a serem desenvolvidas no campo da graduação e pós-graduação. Objetiva-se analisar como se dá a formação acadêmica nas Instituições de Educação Superior e nos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde do Nordeste brasileiro. A população do estudo é composta por residentes do segundo ano vinculados aos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde do Nordeste do Brasil. A pesquisa foi desenvolvida em duas fases interdependentes sendo a primeira um estudo quantitativo seccional e a segunda um estudo qualitativo. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário eletrônico autopreenchido na plataforma google forms e o estudo qualitativo por meio de entrevista a partir de roteiro semiestruturado, em plataforma de reuniões online (google meet). A análise quantitativa se deu por meio de estatística descritiva e inferencial, utilizando-se de tabelas de contingência e associação estatística ao nível de significância de p<0,05. Para a análise qualitativa, utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin, com apoio do software Atlas Ti, encontrando-se as seguintes categorias: perfil profissional no SUS; percurso formativo: da graduação à residência; percepção sobre o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde. Segundo a Instituição de Educação Superior, obteve-se associação significativa para as variáveis relacionadas à inserção por meio de cotas (p=0,001), políticas de permanência (p<0,001), e componentes curriculares em conjunto com outros cursos (p=0,014). Destaca-se que a maioria dos aspectos avaliados pelos residentes, destacando-se o trabalho interprofissional e colaborativo (90,0%) e a educação permanente (85,6%) foi vivenciado de forma mais intensa nos PRMS, enquanto na graduação os aspectos mais significativos foram os relacionados à qualificação para realização de pesquisas científicas (43,5%) e o desenvolvimento de competências profissionais específicas (35,6%). De acordo a Instituição de Educação Superior e a relação com aspectos formativos da graduação e residência, identificou-se que as metodologias ativas (p=0,001) e conhecimento do projeto pedagógico (p=0,001) foram identificados mais frequentemente na residência principalmente pelos participantes formados em Instituição de Educação Superior privadas; enquanto o desenvolvimento de estudos científicos foi identificado mais frequentemente no ambiente da graduação (<0,001) por participantes formados em Instituição de Educação Superior públicas. Verificou-se que quanto ao suporte e qualificação de preceptores e tutores, os tutores obtiveram melhor avaliação. Evidencia-se fragilidades no suporte ofertado aos residentes, sobretudo, pela ausência de determinadas categorias profissionais na Rede de Atenção à Saúde, sobrecarga profissional e necessidade de qualificação. Os participantes demonstraram ainda que as fragilidades da graduação, como as poucas experiências de vivências no Sistema Único de Saúde, multiprofissionalidade e escassez de atividade com metodologias ativas de aprendizagem dificultaram a sua inserção nos Programas de Residência, além da organização dos conteúdos teóricos alinhados com a realidade prática. A residência foi identificada como oportunidade única no desenvolvimento da interprofissionalidade, fortalecimento do Sistema Único de Saúde e efetiva preparação como profissional de saúde.