O CORPO DO BALÉ FOLCLÓRICO DA BAHIA: significações culturais e simbólicas no espetáculo “Herança Sagrada”
Cultura, Símbolo, Corpo e Educação Física.
Nessa pesquisa de dissertação que se encontra em andamento no Programa de Pós-graduação em Educação Física PPGEF/UFRN, procuramos investigar o simbolismo das danças da cultura afro-brasileira apresentadas no espetáculo Herança Sagrada do Balé Folclórico da Bahia, sob a perspectiva do corpo fenomenológico de Merleau-ponty (1984), pautando a percepção como fonte subjetiva de conhecimento, possibilitada pela arte da dança, mais especificamente as danças populares aqui vistas como textos corpóreos que transcrevem marcas da cultura. É portanto, na leitura dos textos corpóreos que O Balé Folclórico da Bahia nos oferece no espetáculo Herança Sagrada que nos debruçamos, uma vez que esse grupo utiliza-se das danças e expressões afro-brasileiras para compor seus espetáculos, elevando-as ao status de arte, ressignificando-as ao transmutá-las dos terreiros e senzalas para os palcos, atribuindo novos sentidos culturais e simbólicos, além daqueles já construídos desde sua criação. Na busca pela percepção cultural e simbólica do espetáculo utilizaremos o método fenomenológico de Maurice Merleau-Ponty, por entendermos que o conhecimento que buscamos alcançar não se dá somente pela racionalização de um olhar distante do objeto, mas pelo ouvir, pelo ver e pelo sentir o fenômeno a partir do que sua apreciação imbuída de uma redução fenomenológica que suspende nossas certezas no mundo nos dá a pensar. Para melhor entendimento, utilizamos as ferramentas e instrumentos propostos no livro A Análise dos Espetáculos, de Pavis (2005), que vão desde a descrição das cenas e dos gestos dos bailarinos, até os elementos como música, luz, figurino, maquiagem, entre outros, que simultaneamente e unidos às entrevistas feitas com os componentes do Balé, dão o sentido do espetáculo, dentro de uma dinâmica que liga os diferentes signos, agrupando-os em torno de uma significação conjunta, construindo uma rede de significações, cujas unidades de significações iniciais foram refletidas nos capítulos 1 e 2 dessa dissertação e nos permitiram discutir e ampliar os conceitos de cultura e símbolo a partir das visões de Zumthor (1993; 1997; 2005), Eliade (2010; 2012) e Langer (1980), ficando os temas relacionados ao corpo a serem discutidos no terceiro capítulo, ainda em construção. Entendemos que as reflexões até aqui feitas são de grande valor para Educação Física pois propiciam um conhecimento sensível e aberto, livre de simplificações que o tornem incomplacente, além de ratificar o corpo como sensível exemplar, sem determinismos ou reducionismos que o vejam simplesmente como máquina (MERLEAU-PONTY, 1992; 2011).