Performatividades ritualísticas das ialodês nos videoclipes da música negra brasileira contemporânea
música; raça; religiosidade; performance e representação
A partir de conceitos da teoria racial negra, como a transcodificação (Hall, 2016), imagens de controle (Collins, 2019) e o atlântico negro (Gilroy, 2001) investigou-se a obra de três interlocutoras: Mc Tha, Luedji Luna e Bixarte. Elas são artistas afro-brasileiras que trazem em sua sonoridade e performance aspectos de religiosidade negra, como ritos, rituais e a presença das Ialodês - as orixás femininas, como Iansã, Nanã, Oxum e Iemanjá. Por meio de indicadores metodológicos de análise aplicados às suas obras, examinou-se três eixos: as suas visualidades, sonoridades e textualidades a presença das religiões de matriz africana em seus videoclipes. A partir das investigações, discutiu-se de que forma simbólica as orixás se manifestam, bem como os indicadores de análise previamente delimitados, como a água, as cores, as guias, as folhas e os alimentos. Considerando os autores citados, pensou-se na indissociabilidade da música produzida na diáspora negra e nas religiões de matriz africana, bem como no confronto das imagens propostas com o regime de representação racializado. Evocamos conceitos como as imagens transcodificadoras (Hall, 2016), para compreender como essas imagens deslocam os estereótipos no imaginário social brasileiro sobre as religiões de matriz africana, submersas a uma ideia de precário, em um país predominantemente cristão e intolerante religioso. As imagens de liberdade (Guilherme, 2022) foram utilizadas para pensar em como as interlocutoras falam a partir de si, não mais sob um viés subordinado ao olhar branco colonizador, além de confrontar as imagens de controle que aprisionam corpos negros, corpos de terreiro e corpos desobedientes de gênero (Mombaça, 2021). Portanto, definiu-se nesta dissertação que as imagens dos videoclipes das cantoras negras brasileiras analisadas em Oxum (A Nova Era, Parte I)(2021), Banho de Folhas (2017) e Rito de Passá (2019), são transgressoras e emancipadoras, pois utilizam de um produto cultural como um espaço em que mulheres racializadas, cis ou trans, umbandistas ou candomblecistas, podem usar de seu repertório e presença para sentir-se empoderadas. As artistas foram escolhidas por trazerem o enfrentamento político em suas obras, além de partirem de lugares racializados, das periferias brasileiras e por incorporarem os aspectos de sua religiosidade em sua performance. Dessa forma, os esforços em trazer imagens opositoras (hooks, 2019), com elementos de valorização, calmaria e serenidade por meio dos rituais religiosos de matriz africana, desafiam as imagens que controlam a população de terreiro.