O IMPÉRIO DO GROTESCO EM FELLINI E ALMODÓVAR:
A DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS E ESTIGMAS SOCIAIS NO CINEMA
Mídia; cinema; estética; grotesco; estigmas sociais
Esta pesquisa busca compreender os efeitos de sentido do recurso ao grotesco como forma expressiva nas obras dos cineastas Federico Fellini e Pedro Almodóvar. Para isso, analisamos comparativamente dois filmes: Oito e Meio (FELLINI, 1963) e Tudo Sobre Minha Mãe (ALMODÓVAR, 1999), de maneira a estabelecer relações dialógicas entre as obras analisadas e as demais produções dos cineastas a partir de suas representações de corpos estigmatizados. Essa estratégia metodológica nos permitiu discutir o modo estético como os cineastas articulam marcas simbólicas e estereótipos em suas narrativas. Ainda que haja inúmeras diferenças no modo como fazem cinema, é possível aproximar os diretores na forma como ambos criam tramas labirínticas para personagens transgressores, valendo-se de uma elaboração estética que provoca estranhamento e, assim, contribui para a desconstrução de estereótipos e estigmas sociais. A figura do palhaço, as experiências de vida e as ameaças da morte dimensionam a perspectiva circense do universo de Fellini, que festeja a loucura, o obsceno e o disforme; Almodóvar aboliu as dicotomias certo e errado, bom e mau para convidar o espectador à aberração, à solitude, à marginalidade. Como aporte teórico principal à pesquisa, utilizamos as noções de Goffman (1978) sobre estigma e Soares (2009) acerca de estigma social na mídia, as categorizações do grotesco sob a luz de Sodré e Paiva (2002) e as teorias de cinema cunhadas por Edgar Morin (2014) e Christian Metz (1980). O método de abordagem sugerido por Vanoye e Goliot-Lété (1994) foi o utilizado para analisar os filmes.