A MEMÓRIA NO CINEMA: RECORDAÇÕES E ESQUECIMENTOS NAS CIDADES DO AMOR
Memória Cultural; Cinematografia Urbana; Cidades do Amor
Diante de um contexto de ampla inserção midiática na sociedade, presencia-se um arquivamento sem precedentes de dados e uma contínua reescrita da memória possibilitados, entre outros, pelo desenvolvimento dos meios de comunicação. Longe de lidar com uma autosuspensão da memória, passamos a lidar com um grande volume de memórias menos estáveis. Este trabalho parte da premissa de que o cinema é um meio de comunicação legitimador da construção, reconstrução, reatualização, permanência e supressão da memória e, ao criar uma “classe privilegiada” de imagens e narrativas das cidades em diálogos com outras imagens e narrativas, participa das mobilizações visuais da cultura pelas quais as cidades são pensadas, vividas e lembradas. Investiga as propostas de memórias culturais que circulam e são engendradas por filmes coletivos de ficção contemporâneos acerca de cidades mundialmente e cinematograficamente conhecidas. Paris, Je T´aime (2006), New York, I love you (2009) e Rio, Eu te amo (2014) formam o objeto empírico da pesquisa. A hipótese sugere que a franquia Cidades do Amor (Cities of Love) – responsável pela produção dos longas-metragens analisados – promove uma política específica de recordações e esquecimentos no tocante às cidades, podendo funcionar como meio da memória cultural; e que os filmes se apropriam de referências mnemônicas e tendem a reproduzir matrizes imagéticas e narrativas já solidificadas pela mídia sobre Paris, Nova York e Rio de Janeiro. A discussão teórica apoia-se na interlocução entre memória cultural, mídia e cinematografia urbana. A estrutura do texto se divide em três momentos: num primeiro trazemos considerações sobre a memória e seu nexo com os meios de comunicação, quando nos valemos de escritos de Jan Assmann (2008; 2011), Aleida Assmann (2011), Astrid Erll (2008), Umberto Eco (1999) e Milton José de Almeida (1999); na sequência, amparados principalmente em Calvino (2013), Schorske (2000), Benjamin (2012), Comolli (2008) e Costa (2002), esboçamos um debate acerca da cidade no cinema ao mesmo tempo em que somos custodiados por Nora (2014), Augé (2005) e Tuan (2012; 2013) ao nos referirmos às cidades como lugares de memória; e finalmente, no terceiro momento, recorremos às análises fílmica e de conteúdo, quando evocamos e tomamos os fios teóricos desenvolvidos anteriormente.