FRAÇÃO DE MANSOA HIRSUTA: ANÁLISE TOXICOLÓGICA, FARMACOLÓGICA, QUÍMICA E DESENVOLVIMENTO DE FILME POLIMÉRICO COMO CURATIVO PARA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS
Bignoniaceae; Mansoa hirsuta; Toxicidade; Inflamação; Analgesia; Filme;
Cicatrização;
Mansoa hirsuta D.C. (Bignoniaceae), conhecida popularmente como cipó-de-alho, é uma
espécie nativa da região semiárida brasileira sendo tradicionalmente utilizada no tratamento de
dores de garganta e diabetes. Estudos relatam que extratos e frações dessa espécie possuem
diversas ações farmacológicas, como atividade antifúngica, antioxidante, efeito vasodilatador
dependente do endotélio e inibição da enzima conversora da angiotensina, da produção de óxido
nítrico e da proliferação de linfócitos. Neste cenário, este estudo seguiu duas linhas de pesquisa:
(1) investigar a toxicidade, ações anti-inflamatórias e analgésicas e a composição química da
fração obtida a partir das folhas de M. Hirsuta (MHF); e (2) desenvolver filmes de quitosana
incorporados com MHF, como uma formulação inovadora para o tratamento de feridas. A
viabilidade celular in vitro foi avaliada em células 3T3 utilizando o ensaio MTT. Em 24, 48 e
72 h, MHF não apresentou prejuízo da viabilidade celular. Para o ensaio de toxicidade aguda,
uma dose única da fração foi administrada via oral em camundongos machos e fêmeas não
ocorrendo mortalidade, nem sinais de toxicidade. Adicionalmente, no teste de toxicidade
subcrônica, não foram observadas alterações toxicológicas relevantes. Os resultados dos testes
de campo aberto e rota-rod demostraram que MHF não alterou a atividade locomotora e
comportamento dos camundongos, nem provocou alteração na coordenação motora e equilíbrio
dos animais tratados. Na avaliação da atividade anti-inflamatória, a administração oral única de
MHF reduziu significativamente o edema induzido por carragenina e os níveis de
mieloperoxidase. Além disso, diminuiu a migração de leucócitos e proteínas no modelo de bolsa
de ar. Em relação à atividade antinociceptiva, observou-se que as maiores doses reduziram a
contorção abdominal em resposta à administração do ácido acético e inibiram
significativamente a segunda fase do teste de formalina. Por fim, a cromatografia líquida de
ultra performance, acoplada a um analisador de tempo de vôo e espectrometria de massa,
indicou que essa fração é rica em triterpenos ácidos que podem ser derivados dos ácidos
oleanólico e ursólico. Em seguida, os filmes foram preparados através do método de evaporação
por solvente, e caracterizados por espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier,
difração de raios X, termogravimetria, calorimetria diferencial de varredura, microscopia
eletrônica de varredura e microscopia de força atômica. Além disso, também foram realizadas
medidas de resistência à tração, alongamento na ruptura e espessura. Os filmes de quitosana
contendo MHF (CMHF) exibiram bandas características de quitosana e MHF, revelando uma
mistura física de ambos. O CMHF apresentou natureza amorfa, termoestabilidade e dispersão
do MHF na matriz de quitosana, resultando em uma estrutura rugosa. Incorporação da fração
na matriz de quitosana melhorou de forma significativa o desempenho mecânico e a espessura
dos filmes. O tratamento de feridas in vivo com CMHF por sete dias mostrou uma área
característica de cicatrização avançada, reepitelização, proliferação celular e formação de
colágeno. Ademais, o fechamento da ferida atingiu 100% de contração após 10 dias de
tratamento com modulação das interleucinas. Portanto, os resultados desse estudo indicam que
MHF é rica em triterpenos ácidos e apresenta um potencial anti-inflamatório e analgésico, sem
causar efeitos tóxicos agudos ou subcrônicos, podendo ser uma fonte promissora a ser
explorada. Além disso, a incorporação da fração de M. hirsuta em filmes de quitosana foi
vantajosa, e apresentou grande potencial para estimular a reparação e regeneração de feridas.