EXTRATOS PROTEICOS DE Plasmodium falciparum INDUZEM HEMÓLISE DE ERITRÓCITOS HUMANOS VIA SISTEMA COMPLEMENTO
Plasmodium falciparum; malária; sistema complemento; imunopatogênese; hemólise.
A maioria dos casos de malária grave humana é atribuída a infecções por Plasmodium falciparum, considerada o mais agressivo devido à hipóxia tecidual resultante de vários fatores, entre eles a anemia severa. Nesse sentido, este estudo avaliou o grau de hemólise mediada pelo sistema complemento em eritrócitos humanos sensibilizados com extratos proteicos de P. falciparum, através de ensaios hemolíticos autólogos in vitro, no intuito de estabelecer relações entre esta atividade e suas implicações para a patogênese da malária complicada. Os eritrócitos tratados com EBPf com a concentração mínima de 0.06 ug/mL foram hemolisados em cerca de 60% quando em presença do complemento, enquanto que na ausência deste o efeito foi reduzido para menos de 20%, indicando a sua participação. Nas hemácias do doador com traço falciforme (HbAS), houve uma pequena redução da hemólise em relação às hemácias normais, sugerindo uma imunoreatividade diferencial neste caso. Em comparação com o tratamento com a neuraminidase, os perfis de ação hemolítica foram similares aos obtidos com o EBPf, indicando que o P. falciparum provavelmente possui proteases com ação semelhante a esta enzima, clivando proteínas sialisadas na superfície da célula-alvo e valendo-se de vias alternativas de invasão sob determinadas condições. O gel de SDS-PAGE corado com nitrato de prata revelou um perfil de degração protéica equivalente entre os tratamentos dos eritrócitos com EBPf e neuraminidase, reforçando esta hipótese. Além disso, as proteases do parasito podem ser capazes de degradar estruturas protéicas da superfície eritrocitária como glicoforina A, enquanto outras são preservadas, como a aquaporina 1, podendo contribuir para a imunopatogênese da doença. O ensaio de dose-resposta demonstrou uma redução da atividade hemolítica apenas a partir da concentração de 0.03 ug/mL, indicando que a elevada parasitemia não é fator estritamente crucial para a ativação do complemento, tratando-se, provavelmente, de um fenômeno biológico potencializado por outros fatores envolvidos no processo infeccioso. Desta forma, concluiu-se que extratos proteicos de P. falciparum induzem hemólise em eritrócitos humanos via complemento, sendo este um dos mecanismos responsáveis pela geração de um processo inflamatório exacerbado e perda da homeostasia do indivíduo.